Consulesa francesa e o racismo à brasileira: Alexandra Loras viaja à Florianópolis e conhece a realidade do Quilombo Vidal Martins

A comunidade  que é liderada por mulheres vive em situação precária no Sul do país, mas fez questão de receber com festa a diplomata, que durante a viagem sentiu na pele como o preconceito racial ainda se manifesta no nosso dia a dia. A viagem foi acompanhada pela Editora de Conteúdo do  Portal Áfricas, a jornalista Claudia Alexandre, que destaca nesta reportagem os principais momentos do encontro da Consulesa da França em São Paulo, Alexandra Baldeh Loras com a comunidade negra e os quilombolas da Ilha de Florianópolis.

Agência Áfricas de Notícias – por Claudia Alexandre*

Fotos: Claudia Alexandre e Carlos Romero

O público que lotou o auditório da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, na noite fria de segunda-feira, dia 18 de julho, aplaudiu de pé a Consulesa da França em São Paulo, Alexandra Baldeh Loras.  Em uma apresentação que misturou a trajetória de vida, o trabalho de pesquisa que tem desenvolvido sobre a imagem do negro na mídia e as novas experiências com o racismo no Brasil, a palestra teve o título de “Barreiras Sigilosas, obstáculos invisíveis, além do gênero”. O  tema incluiu uma reflexão sobre diversidade e empoderamento das mulheres negras.  Entre os convidados estavam representantes dos movimentos negros e sociais de Florianópolis e de Santa Catarina como Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros e Movimento da Macha da Mulher Negra.

Alexandra Loras em tom provocante criticou o papel da mídia ao longo da história como ferramenta de perpetuação do racismo nas sociedades modernas. Sua pesquisa acadêmica mostra não só o quanto a mídia e a publicidade, ao longo dos tempos,  colaboraram para a manutenção de todas as formas de preconceito e inferiorização, mas também como o negro tem muito o que se orgulhar de seus grandes personagens  cuja sociedade racista embranqueceu , como por exemplo, cientistas, inventores, e escritores.

“A TV é o espelho da sociedade, ela educa a sociedade. Temos que ver mulheres e negros em destaque e posição de protagonismo e liderança. Precisamos reequilibrar, e para isso as cotas são necessárias. Antes eu não sabia o que responder quando me perguntavam se eu era contra ou a favor das cotas. Hoje vemos que não estamos um mundo lindo e maravilhoso, que irá se equilibrar de uma forma normal. Aqui há o genocídio contra o negro. Um racismo velado que faz com que ninguém se importe com estas mortes ou fale sobre isso. Precisamos buscar o equilíbrio”, disse.

A emoção tomou conta da plateia, quando ela  narrou a visita,  horas antes, ao  Quilombo Vidal Martins,  onde 26 famílias lutam pela regularização e devolução das terras, que foram transformadas no Parque Estadual.

Uma gratidão expressa também pela presidente da Associação do quilombo, Helena Jucélia Vidal de Oliveira.  “Quando a vi na televisão já sonhava em poder mostrar pra ela a nossa situação. A consulesa trouxe luz para o nosso quilombo. Além da humildade e simpatia a presença dela nos deu mais força para lutar pelo reconhecimento”, disse Helena.

Desde que chegou ao Brasil em 2012, a jornalista e apresentadora de TV Alexandra Baldeh Loras, 39 anos,  não teve dúvidas de que sua estadia no país daria um rumo especial para sua vida. Casada com o Consul Geral da França em São Paulo,  Damien Loras, mãe de Rafael, de 4 anos, ela entrou na sociedade brasileira para quebrar clichês e dar outro sentido ao seu título de Consulesa. Assim sua concorrida agenda de compromissos sociais, na casa consular e viagens ao lado do marido,  abriu espaço para encontros com lideranças, instituições e associações envolvidas com as questões raciais. A sua imagem passou a figurar nos principais veículos de imprensa e a motivar discussões sobre racismo e desigualdade fora dos círculos comuns à militância.

Aos poucos Alexandra percebeu como ocorre o chamado “racismo velado” e suas consequências, como por exemplo, a falta de empoderamento, principalmente das mulheres.  Uma razão a mais, para se aproximar do maior número de mulheres negras com perfil de liderança e que de alguma forma já estivesse atuando em  diversos segmentos. Por onde passava distribuía seu cartão de visitas, transmitindo mensagens de otimismo e elevando a autoestima de cada uma. O resultado foi a formação do Grupo de Negras Empoderadas, que no sábado,  24 de julho, terá 16 de suas representantes no palco do TEDXSÃOPAULO, organização licenciada pelo TED, a maior plataforma mundial de compartilhamento de ideias, através de palestras.

Racismo à Brasileira 1 – o início da viagem

Alexandra Loras viajou pela primeira vez para Florianópolis especialmente para conhecer a realidade do Quilombo Vidal Martins, atendendo ao convite da presidente da associação e uma das líderes da comunidade, Helena Vidal. Mesmo sabendo que a cada compromisso como este, grandes mudanças internas lhe acontecem, a consulesa não podia imaginar que esta experiência lhe colocaria, do começo ao fim da viagem de frente com o racismo à brasileira.

A viagem começou justo na manhã de segunda-feira, dia 18 de julho, às  7h15, quando nos aeroportos de todo o Brasil começava as alterações para o esquema de segurança, principalmente para os turistas, que assistirão aos Jogos Olímpicos, no mês de agosto.  Uma manhã que exigiu paciência de quem queria embarcar, diante da novidade no serviço.

No meio de centenas de passageiros e do tumulto, no Aeroporto Internacional de Guarulhos,  duas belas mulheres negras, iriam viver uma situação que independente da novidade do momento ainda continua acontecendo no país: o incômodo e o comportamento racista diante de quem quebra os padrões.

A consulesa Alexandra, ao lado da advogada Zilá Pinto, seguramente sem aparência de público prioritário, se postou na enorme fila de acesso especial e rapidamente  foi hostilizadas, por olhares e palavras. “Vocês não podem ficar aqui”, disse uma mulher branca aparentando uns 70 anos.  Elegantemente, com seu sotaque francês, sem se identificar respondeu: “senhora eu possuo passaporte diplomático e devo entrar por aqui”.

A mulher desferiu outras palavras, indignada com a presença das duas, e só parou quando Alexandra ergueu a voz e desferiu “isso é uma atitude racista”. Foi o que bastou para encerrar o tumulto e dispersar os olhares de reprovação. “É a prova do racismo velado”.

Nos encontramos na sala de embarque, e ao narrar o acontecimento, ela tinha um ar de quem  já sabia que estes episódios tornam ainda mais necessária a luta contra pelas desigualdades raciais, num país com tanta diversidade como no Brasil.

Às 9h10 minutos o avião aterrissou em Florianópolis. Já estavam à espera, para uma calorosa recepção, a presidente da Associação do Quilombo Vidal Martins, Helena Vidal, a professora e ativista Roseli Pereira e o jornalista Carlos Romero, que organizou toda a viagem. A programação seria deixar as malas na pousada, tomar um café e seguir direto para a visita ao quilombo, onde a comunidade esperava ansiosa. À noite, estava marcada a palestra e  o encontro com os representantes dos movimentos negros e movimentos sociais, na Assembleia Legislativa.

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Ilha de Florianópolis

Durante o trajeto, não foi difícil se encantar com as belezas da capital de Santa Catarina. A cidade, também chamada de Floripa,  é composta por uma ilha principal também chamada de Santa Catarina, com várias ilhas pequenas em sua volta. No Brasil só existem três ilhas capitais: Florianópolis (SC), Vitória (ES) e São Luís (MA).

Mas o que a Consulesa Alexandra Loras não esperava, é que o município tinha tantas ligações com suas origens. Enquanto descrevia as belas paisagens, a professora Roseli falou sobre o passado histórico de Floripa e a presença francesa na região. “A única edificação na comunidade do Campeche, no sul da ilha,  era uma casa de pilotos onde aportou entre outras celebridades  Saint Exupéry. Lá funcionava a casa de passagem, ao lado do campo de aviação, mantido por uma Cia francesa, que possuía 26 rotas pelo mundo, sendo uma delas a do Campeche em Florianópolis”, disse ela, orgulhosa da passagem de Antonie Saint Exupéry, escritor e piloto, autor de um dos mais famosos best-sellers da história: O Pequeno Príncipe.

Na ilha uma das principais atividades é a pesca e o cultivo de frutos do mar – ostra e lula. O prato típico recomendado é sempre o peixe frito, acompanhado do pirão de fio de nylon. “O pirão é bem ralo, a farinha fica tão transparente, que parece um fio de pesca”, explicou Roseli.  “ O cultivo da ostra atraiu um intercâmbio cultural com a também cidade francesa de La Rochelle,  o que aperfeiçoou o cultivo de ostras e mariscos, do interior da Ilha”, concluiu.

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Convento do Mirante Morro das Pedras

Antes de seguir para a pousada uma parada obrigatória: o Mirante do Morro das Pedras. O local fica no topo de uma colina e  faz parte da Casa de Retiro Vila Fátima, conhecido como Convento dos Jesuítas. Um visual incrível das praias da parte sul da ilha.

Ao chegar à pousada Estrelas No Mar , na praia Pântano do Sul, nos surpreendemos com uma charmosa edificação, construída à beira-mar, preparada para receber a ilustre visita para o café da manhã.  Foi quando rodeada dos anfitriões, Alexandra falou da satisfação em conhecer uma cidade tão bela, e principalmente por estar no sul do Brasil para conhecer uma realidade tão contrastante, que é a vida de quilombolas. “Quando cheguei ao Brasil uma das coisas que mais chamou  atenção é ver como os negros eram induzidos a participar desta sociedade eurocentrista. Disse pra mim mesma, não! Tenho que fazer alguma coisa”, disse a ao lembrar que ainda existe a imagem de que no Sul, não existem negros. “É preciso dizer sim, que a construção do sul do país também teve a participação dos afrodescendentes”.

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Floripa é uma das três ilhas capitais do Brasil

Com os pés no Quilombo

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Famílias recebem Consulesa da França no Rio Vermelho

Às 12 horas , o carro que levava a Consulesa da França chegou ao bairro do Rio Vermelho, no Norte da ilha. A recepção festiva, sob olhares de admiração das 26 famílias do Quilombo Vidal Martins, teve como fundo musical a música “Sorriso Negro”,  composta por Dona Ivone Lara. Embalados pelo samba e dançando, receberam os abraços de Alexandra Loras  que não escondeu a emoção. Ali, uma imagem bem diferente, de até então.

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Jucélia prepara o peixe na folha de bananeira

Dona Jucélia Beatriz Oliveira, 59 anos, mãe de Helena e  Shirlen, foi a responsável por contar toda a história do quilombo e apresentar uma farta mesa que prepararam para o almoço comunitário. Um fogão de lenha foi improvisado  para assar na folha de bananeiro o peixe (tainha), que foi servido com arroz, saladas e rosquinhas de farinha de milho, um preparo tradicional e que remonta a culinária dos antepassados.

Jucélia é neta de Boaventura Vidal Martins, filho de Vidal Martins, o negro escravizado que dá nome ao quilombo.  Desde os cinco anos, é rendeira e maneja como ninguém os bilros, que batem até formarem as rendas.  que já foram sustento principal da família. Hoje, aposentada por invalidez, sente fortes dores nos ossos das mãos. Ali a atividade sempre foi assim: os homens, maioria pescadores, teciam as redes e esteiras, e as mulheres as rendas de linha, uma tradição que foi trazida pelos portugueses.

O quarto ocupado por dona Jucélia não passa de três metros quadrados, onde ela divide uma cama de solteiro com uma das netas e um amontoado de roupas, caixas  e objetos.

A consulesa, que também ensaiou o manejo  na bancada de bilros das rendas, ouviu atenta toda a trajetória de luta das famílias e se surpreendeu com a forma como as mulheres estão se aproximando da própria história. “Vi o amor,  que elas sentem da pesquisa que estão fazendo sobre suas origens e sobre sua família. E o orgulho em mostrar os registros de nascimento e como  foram capazes de chegar até a informação do primeiro negro que chegou aqui”, disse.

De acordo com pesquisas feitas pelas irmãs Shirlen e Helena, a saga de Vidal Martins começa em 1748, quando os negros foram trazidos para trabalhar nos engenhos e para servir aos religiosos e militares. O primeiro negro teria chegado  junto com um filho, em um navio inglês que encalhou próximo à ilha. Todo o levantamento, que inclui fotos e registros de nascimento e casamento será publicado em um livro, como sonham as irmãs. Shirlen cuidou da coleta de documentos no cartório e Helena da pesquisa de campo.

Ao final de duas horas de visita, muitas fotos, abraços e demonstração de gratidão, a Consulesa da França deixou o Rio Vermelho, para se preparar para a palestra.

Helena confessou que era a realização de um dos muitos sonhos que esta luta lhe apresenta. “A consulesa trouxe luz para o nosso quilombo.  Imagina uma consulesa da França parar para escutar a nossa história. Sabemos o que ela tem representado para o povo negro aqui no Brasil e hoje ela está dando visibilidade ao quilombo Vidal Martins”.

Alexandra Loras  saiu pensativa e com os olhos marejados. Perguntei-lhe o que mais tinha marcado na visita e ela respondeu prontamente – “Estou emocionada com a generosidade deste povo. De fazerem esta recepção, um almoço deste tamanho diante de uma realidade tão difícil. Saber que eles moram no sul do Brasil onde é muito mais frio,  vi muita dificuldade ali”, confessou.

A consulesa disse não ter se chocado com a situação de pobreza das famílias que vivem ali e  lembrou da própria origem. Filha de uma francesa branca com um africano de Gâmbia, Alexandra é a única negra numa família de cinco irmãos, cada um de um pai. Sua infância e juventude foram marcadas por situações de preconceito e racismo, até chegar à universidade. Mesmo depois de casada não são  poucas as situações de preconceito racial que continua a enfrentar, com ser confundida com a recepcionista da casa consular, babá de seu próprio filho, por ele ter cabelos loiros e até na hora de entrar no clube esportivo, onde é sócia.

Estar no Quilombo Vidal Martins foi como revisitar sua própria história e a extensão de luta contra o racismo.  “Elas me disseram que minha presença  vai ajudar a dar visibilidade para a comunidade e me transmitiram muita admiração.  Na realidade eu sou apenas um ser humano, e foi muito bom passar estes momentos de intimidade com elas. Vi muita carência de atenção, de serem abraçadas, beijadas e reconhecidas”, avaliou.

“Pra mim foi uma grande oportunidade de me conectar com elas e não estar só na superfície”, concluiu.

Vida no Quilombo

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Mulheres do Quilombo Vidal Martins – Shirlen, Dona Júcelia e Helena (à direita)

Apesar de todo o orgulho,  é  uma vida difícil carregada de insegurança, pobreza, racismo e descaso. O Quilombo Vidal Martins, é o primeiro quilombo urbano a receber a certificação, em Florianópolis e atualmente passa por uma fase lenta de regularização, conforme exige o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no procedimento do Decreto 4887, para que tenham a titulação definitiva. Mas também se depara com injustiça.

Hoje o quilombo se resume num corredor estreito de pouco mais de 800 metros quadrados, onde moram 20 famílias, no Rio Vermelho e outras 6, na Costa da Lagoa. Eles não vivem nas  terras que estão sendo reivindicadas, pois desde 1964 foram expulsas de uma área de mais de 47 hectares, onde foi instalado o Parque Estadual. O local foi transformado em uma reserva e os descendentes de Vidal Martins, hoje vivem separados.

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Shirlen (à direita) mostra os documentos

Shirlen reclama do descaso e da falta de  acesso às políticas públicas. “Existe um posto de saúde para atender toda a comunidade do bairro do Rio Vermelho, onde moram 27 mil pessoas, que são atendidas por 4 médicos. Mesmo que você chegue doente 3 ou 4 horas da manhã para pegar a ficha não é garantido que você seja atendido. Se pedem exames demoram meses e muitas vezes a pessoa já até morreu. Então reforçamos em audiência pública que sofremos por várias necessidades e precisamos também de médicos e dentistas”, disse.

A titulação definitiva das terras e reintegração das famílias à área que reivindicam é a esperança de uma vida com dignidade. “Para  ter ideia não temos ainda o Título Provisório. A prefeitura não teve acesso à verba que é de direito para dar assistência ao Quilombo  porque não apresentou nenhum projeto ao governo. Ou seja, fomos reconhecidos e não conseguimos ter acesso aos benefícios a que temos direito”, disse Helena.

No processo de identificação de áreas de quilombo, a Fundação Palmares (Ministério da Cultura) é a  responsável pelos laudos para o reconhecimento das áreas e envia os recursos para as prefeituras fazerem  o trabalho de assistência às famílias. “Mas como não acompanham o processo até o final da regularização, muitas vezes acaba neste problema como o nosso, onde a prefeitura se quer tem um projeto para apresentar. Já procuramos a Flávia Elena, da  Copir – Coordenação de Políticas e Promoção da Igualdade Racial de Florianópolis, que confirmou que não há projeto. Precisamos o mais rápido desta regularização. Oficialmente são 7 fases para recebermos o título definitivo das terras, estamos no 3º. Passo”, explicou Shirlen.

Racismo à brasileira 2 –  à volta para São Paulo

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Despedida no aeroporto de Florianópolis – Carlos Romero, Zilá Pinto, Alexandra Loras, Claudia Alexandre e Helena Vidal

Às 8h30, da terça-feira, dia 19 de julho, estávamos de volta ao Aeroporto Internacional de Florianópolis Hercílio Luz para embarcar de volta para São Paulo. Fomos surpreendidas por Helena Vidal, com ar de dever cumprido. Menos tímida, mais falante e cheia de gratidão. “Tenho certeza que a partir de hoje nosso quilombo ganhou visibilidade e devemos isso à consulesa”, disse ela ao se despedir.

Novamente nos dirigimos ao acesso prioritário e de clientes com cartão de fidelidade para despachar nossa bagagem. À frente, Alexandra Baldeh, nem percebeu o olhar de reprovação de um casal de funcionários do atendimento de acesso. Com ar de indignação, a atendente loira se dirigiu à consulesa: “senhora a sua fila é esta aqui!”. Com sorriso e educadamente, Alexandra respondeu: “eu tenho passaporte diplomático e devo ficar na fila prioritária”. Com um olhar de surpresa veio a resposta “então tá, fica aí”.

O que nos causou surpresa é que 24 horas antes, no aeroporto internacional de Guarulhos havia ocorrido uma situação parecida, que não terminava por aí. O outro atendente que havia acompanhado a situação, não conformado, se dirigiu novamente à consulesa, na tentativa de colocá-la em outra fila. “Senhora, por favor, a  fila de vocês  é essa daqui”. Alexandra então abriu a bolsa e disse, tenho passaporte diplomático. O atendente perguntou: “sim e qual é a prioridade?”. Ela então sacou do documento, mostrou ao rapaz, que fez um gesto positivo com a cabeça, um sorriso sem graça e disse. “pois não senhora, boa viagem”. E assim, a consulesa viveu mais uma situação do racismo à brasileira. Detalhe: em nenhum momento ela foi questionada ou disse que era a Consulesa da França no Brasil.

NOTA DA REDAÇÃO: Quem tem passaporte diplomático, entre outros privilégios, ao se apresentar um aeroporto tem acesso à fila e atendimento prioritário, prioridade  nas bagagens e dependendo do país está dispensado de visto de entrada. Mais informações: www.itamaraty.gov.br/pt-BR/perguntas-frequentes
*A jornalista Claudia Alexandre é Editora de Conteúdo Exclusivo do Portal Áfricas viajou exclusivamente para esta reportagem e se hospedou, à convite da RC 10 Comunicação, na POUSADA ESTRELAS NO MAR 

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