Sheila Cristiana Nogueira da Silva, de 45 anos, ainda luta para enterrar o filho, Carlos Eduardo Nogueira da Silva, conhecido como Dudu, de 20 anos, que morreu na última sexta-feira, após ser baleado durante confronto entre policiais e traficantes na comunidade do Fallet, em Santa Teresa, na região central do Rio. Nesta segunda-feira, ela fez um desabafo:
Por Marcos Nunes, do Extra
– O pessoal da comunidade disse que quem atirou no meu filho foi um PM. Quero saber de quem partiu o tiro e quem foi a pessoa que atirou nele. Quero olhar para a pessoa que tirou a vida do meu filho. Eu ia dizer: “Muito obrigada, você destruiu a minha vida” – disse Sheila, mãe de 14 filhos, três deles já mortos.
A família enfrenta dificuldades para fazer o sepultamento. Conseguiu 60 reais com moradores para pagar passagem e ir até Instituto Médico-Legal (IML) de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Acabaram ganhando uma carona . Ao chegarem lá, os parentes de Carlos receberam a notícia de que corpo já estava de volta para o IML do Rio. Sheila e demais familiares estão no local. O corpo de Carlos já foi reconhecido por foto.
– Agora, vou correr a sacolinha para enterrar meu filho. Estou desde sábado sem saber o que é comer – disse Sheila.
Ela voltou a negar que o filho tivesse envolvimento com o tráfico de drogas:
– Meu filho não era traficante. Era um inocente. Se fosse traficante, ia falar: “Ele era traficante. Mesmo sendo a dor de de uma mãe, perdi sim um filho porque meu filho estava na vida errada”. Mas meu filho não estava na vida errada nem nunca esteve. Tanto que ele estava na igreja. O pessoal que compareceu à delegacia foi a minha filha e dois senhores que são da igreja. A mesma igreja que meu filho frequentava. Quero justiça.
Ela descreveu Carlos como um rapaz “calmo e brincalhão”.
– Nunca foi abusado, nunca teve passagem pela polícia ou envolvimento com o tráfico. Ele gostava de criar passarinhos. O passatempo que tinha era este. Além de soltar pipa e ir à igreja – afirmou
O delegado Fábio Cardoso, titular da Divisão de Homicídios (DH), que investiga o caso, afirmou que irá oficiar a Polícia Militar para confirmar se havia operação no Morro da Fallet, vizinho ao Querosene, no dia da morte do rapaz. A especializada pretende, então, ouvir os agentes envolvidos na ação. O objetivo é entender a dinâmica do possível confronto e determinar de onde partiu o tiro. Não está descartada a hipótese de realização de uma reprodução simulada.
Relembre o caso
Carlos Eduardo foi atingido por um tiro na cabeça, enquanto estava sentado numa escada na comunidade do Querosene, por volta das 14h. Ele estava bebendo uma água de coco e tinha acabado de sair de uma igreja, quando foi baleado. No mesmo dia, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) fazia operação no Morro do Fallet, que fica no outro lado da Rua Itapiru. Chocada com a morte do filho, a mãe de Carlos Eduardo, a diarista Sheila Cristina Nogueira da Silva chegou a passar o sangue do filho no rosto.
Segundo os moradores, o jovem trabalhava entregando salgadinho e frequentava uma igreja evangélica que fica dentro da comunidade. Ele é o terceiro que morre em uma família de 14 irmãos, porém o primeiro que é vítima de violência.
A Polícia Civil informou que, no posto regional de Polícia Técnica Científica (PRPTC) de Nova Iguaçu, o corpo que seria de Carlos Eduardo deu entrada nesta sexta-feira. “A pericia já foi realizada e o IML aguarda apresentação de documento original pela família para confirmação da identidade da vítima”.
Sofrimento com mortes dos filhos
Antes de Carlos, Sheila perdeu outros dois filhos. Natasha morreu com um mês de vida, sufocada pelo próprio vômito. Já Max morreu aos 12 anos. O garoto caiu de uma árvore e morreu no Hospital municipal Souza Aguiar com problemas pulmonares.