Grada Kilomba: Lidando com o racismo na Europa
Autora de “Plantation Memories”
Em primeiro lugar, o racismo é um problema branco,
Um problema da sociedade branca.
E, em segundo lugar, não é uma questão ”Sou racista ou não”.
Essa não é uma questão que a pessoa branca deve fazer.
Mas, sim, a questão:
“Como eu desconstruo meu próprio racismo?”
O dever das pessoas brancas- e o racismo é definitivamente uma questão delas- é de tornar-se cientes de que elas são brancas.
E o que significa ser branco?
O que esta branquitude encarna?
Encarna privilégio, encarna poder, encarna também poder e brutalidade.
Como eu lido com todas essas partes da minha história?
Estas são as questões que as pessoas brancas precisam lidar.
E este é um processo psicológico, eu penso, para as pessoas brancas quando elas começam a lidar como o racismo.
Há como um encadeamento… um processo.
Primeiro estamos lidando com a negação dizendo “não, não é bem assim, não sou branco, e não sou racista, sou diferente”.
Da negação, passamos a um outro momento de culpa, culpabilidade.
Vem então um terceiro momento de vergonha.
E vem um quarto momento de reconhecimento.
E então vem a reparação.
E a reparação só é possível…
Reconhecimento e reparação só são possíveis quando a pessoa branca é capaz de se posicionar.
E esse processo descreve…
Esse é um processo branco.
Para as pessoas negras,
Nossa tarefa é nos curarmos.
E como sobrevivemos e nos curamos?
Nos abraçando, cuidando bem de nós, tomando a palavra, reconstruindo livros, documentando nossa história, falando, fazendo filmes…
Construindo, recuperando o que foi perdido, reavendo o que foi tomado.
Ou recompondo a história, que é uma história fragmentada.
É isto que estamos fazendo.
É como fazer um filme com pequenos fragmentos de imagens.
E na diáspora temos todos este pedaços fragmentados e estamos reunindo-os.
É assim que nos curamos.
Então nós temos um processo diferente para sobreviver, temos um processo diferente para lidar.
Fonte: Mama Press