Enquanto os italianos e turistas viajam em férias, não muito longe das praias mais bonitas do litoral da península, são colhidos tomates, melões e melancias, por milhares de imigrantes africanos ou da Europa de Leste.
O tomate que os italianos levam para casa, por exemplo, é provável que seja resultado de condições de trabalho e de vida inaceitáveis. Trata-se de seres humanos, que por um punhado de euros, são forçados a viver em barracos improvisados, sem instalações sanitárias, cuidados de saúde, eletricidade e desprovidos de dinheiro. E se tudo isso não fosse suficiente, ainda passam por ameaças constantes. Os ingredientes reais destes pratos são histórias, esperanças, medos e suor de homens que viajaram 18 horas atravessando o mar fugindo da fome e da guerra para procurar a virtude e conhecimento, mas acabam encontrando desumanidade.
“Eles abrem os estábulos, e nos fecham ali dentro”, disse Mohammad, 65 anos de idade. “Eu não vejo a luz do dia, quando chegamos para a colheita é escuro, chegamos em casa é noite. Nos transportam como animais em um caminhão até às estufas. E ali ficamos dobrados durante todo o dia, com as pernas na água, porque os solos são molhados”, acrescenta. É uma verdadeira tragédia humana, um pesadelo para muitas pessoas que são consumidas a cada ano, em todas as estações, com um pesado véu de secretismo sobre o qual vive a maioria da agricultura do elogiado made in Italy.
Os imigrantes são obrigados a trabalhar em turnos de 12 horas, mesmo durante o Ramadã, um período sagrado para muitos trabalhadores muçulmanos. Um deles é Amoud, 30 anos, que chegou na Itália em 2010. Ele conta como era a sua vida nos campos do sul antes de fugir para a Toscana, onde trabalha como vendedor ambulante. “Estava ficando com o coração e alma doentes. Ali nós não temos luz, ou cobertores. Não podemos cozinhar, não há banheiros, não há água.”
Na semana passada, 16 pessoas foram presas pela polícia italiana entre Puglia, Calábria, Campânia, Sicília e Toscana, sob acusações de tráfico de pessoas e escravidão. A operação, chamada Sabr, é liderada pela polícia de Lecce, que atua desde janeiro de 2009 e levou à identificação de uma organização internacional formada por italianos, argelinos, tunisinos e sudaneses com operações na Sicília, Calábria e Tunísia, que favorecia o contrabando humano.
O “recrutamento” ocorria predominantemente na Tunísia, onde um número de pessoas, levadas pelo desespero, chegam na Itália com a falsa esperança de encontrar emprego na Sicília e depois na península. Na cidade de Nardo existia um cartel entre empregadores e feitores. “Quando vejo um italiano com sua esposa e filhos, eu me pergunto por que eu não posso ter também, por que a Itália está me tratando assim?”, desabafou o jovem Amoud.
Fonte: Voz da Russa