Ei, mulher negra! Estava aqui buscando uma inspiração para compartilhar com você e percebi que o que eu preciso e posso compartilhar agora é o seguinte:
Se você é mulher negra está viva no Brasil neste momento muito provavelmente você enfrentou e tem enfrentado várias violências, várias tentativas de subjugação de inferiorização, várias tentativas de invalidação do seu desejo, da sua identidade, da sua história das suas memórias várias tentativas de inviabilização da sua capacidade de sonhar e de realizar. Se você é mulher negra no Brasil nesse momento é bem possível que você esteja chorando pela perda de pessoas queridas vidas jovens retiradas pela violência policial ou pela pandemia ou até mesmo por qualquer outra forma de morte plenamente evitável, mas que foi premeditada e financiada pelo Estado com ou sem o apoio da iniciativa privada.
Se você é mulher negra e é mãe nesse momento de pandemia muito provavelmente você teve vontade de sair gritando e correndo e não voltar mais ou talvez tenha desejado simplesmente poder usar o banheiro ou viver 5 minutos de silêncio sem que aquela palavra de três letrinhas fosse repetida incontáveis vezes por segundo antes que você pudesse ao menos respirar.
Se você é mulher negra e vive sozinha nesse momento da pandemia no Brasil é bem possível que você tenha tido algumas crises de ansiedade ou até mesmo momentos de depressão e Pânico é possível que você tenha perdido várias vezes a noção do tempo dos dias da semana e que em alguns momentos tenha se sentido culpada por estar mais ou menos protegida que as outras pessoas que você conhece.
Se você é mulher negra no Brasil nesse momento da história saiba, reconheça, sinta que enquanto todas as instituições privadas estão ocupadas tentando garantir sua própria sobrevivência e as instituições públicas estão sendo devastadas por um desgoverno irresponsável e fortemente comprometido com as elites internacionais, há mulheres negras retecendo sonhos e construindo saídas através de práticas coditiárias.
Quando pensamos no cotidiano do povo negro brasileiro que hoje é mais de 58% da população e que vive em condições de constante enfrentamento às violências. Identificamos que neste momento da história, em meio a pandemia e ao desgoverno as expressões do racismo e seus impactos se recrudescem.
Presenciamos com assombro a desconstrução das principais políticas públicas, a perda de inúmeros direitos sociais, a decadência da confiabilidade das instituições públicas e do próprio Estado.
Enquanto parte significativa do país é arrastada para a velha conhecida miséria quem se move e faz a diferença levando assistência material e afetiva para milhares de pessoas em todo país são os movimentos negros brasileiros invisibilizados ao longo da história, marginalizados e perseguidos e durante a ditadura distorcido pelas pelos discursos midiáticos é quem tem feito a diferença.
O movimento negro brasileiro que se mobiliza dia após dia para garantir a resistência não só do povo preto, mas de todo país é quem tem atuado proativamente em Socorro da nação neste momento de pandemia.
E quem está à frente do movimento negro brasileiro quem nutre e sustenta quem organiza quem visualiza quem territorializa quem dá materialidade as ações do movimento negro em todo o Brasil são homens e mulheres negras, mas principalmente são as mulheres negras.
Então se você é uma mulher negra no Brasil nesse momento não se sinta culpada, nem inferiorizada. Sinta, saiba, reconheça que você é parte fundamental e estruturante da construção de novos caminhos, novas perspectivas, outras realidades. Sinta, saiba, reconheça que o que há de melhor sendo feito em favor do povo brasileiro hoje tem a ver com você.
Você pode ou não estar nesse momento ligada diretamente a uma organização do movimento de mulheres negras a uma rede ou uma coalizão a uma associação o coletivo, mas com certeza a suas práticas de socorro, de solidariedade, sororidade e de dororidade tem reverberado 100 e coado 1000 e tem se nutrido nas ações que aprendemos e herdamos desde nossas ancestrais mais remotas.
Quando pensamos na configuração estrutural estruturante do racismo na vida da humanidade no tempo presente identificamos o direito e a psicologia como disciplinas estratégicas na consolidação das relações sociais em que estamos todos e todas e todos implicados.
O direito porque cria e legitima as regras normatiza as possibilidades e impossibilidades acessíveis a cada corpo e para os diferentes corpos. A psicologia por quê historicamente estabelece ou colabora para estabelecimento de um padrão de normalidade em termos subjetividades e afetividades em termos das construções cíclicas reconhecidas como legítimas e válidas e consequentemente com o estabelecimento ou a definição de quais corpos são capazes de comportar esses padrões e quais corpos serão considerados desviantes inapropriados ou outros.
Se em sua criação e desenvolvimento direito e psicologia colaboraram para o estabelecimento das dinâmicas de opressão e subjugação do povo negro, agora também já são ferramentas úteis, utilizados na desconstrução do racismo e seus impactos.
Quando analisando esta realidade nos perguntamos: É possível desconstruir o racismo? E seus impactos? Nesta hora, direito e psicologia se apresentam como instrumentos úteis que podem ser utilizados ao nosso favor nos processos de reconexão com nossas subjetividades e direitos.
Não para atender à ideais de ego branco, ou a perspectivas e expectativas alienadas eurocêntricas, mas para criar outras realidades subjetivas e sociais. Como as leis a subjetividade é uma construção histórica, situada no tempo e no espaço. É uma construção social.
Para que o bem viver se materialize em nosso processo de combate ao racismo, precisamos nos permitir acessar as ferramentas disponibilizadas tanto pelo direito e pela psicologia. Para que possamos construir e implementar ações afirmativas no campo das relações sociais e cuidados mais específicos.
Tudo aquilo que não existe pode ser inventado. E nós negras e negros temos sido agentes de criação e invenção de muitas coisas. Vamos agora inventar uma outra sociedade!
Larissa Amorim Borges – Graduada em Psicologia pela PUC São Gabriel. Doutoranda e Mestre em Psicologia pela UFMG. Gestora de Políticas Públicas de juventude, Gênero e Raça com experiência nos níveis municipal, estadual e federal. Colaboradora na criação e desenvolvimento da disciplina Psicologia Social do Racismo no curso de Psicologia da UFMG. Liderou a elaboração do Plano Decenal de Políticas para Mulheres do Estado de Minas Gerais. Integra a atual gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG).
Lorena Amorim Borges, natural de BH, mulher negra periférica mãe de 3 meninos negros, Bacharel em Direito, coach de desenvolvimento pessoal afrocentrado, candomblecista filha de Yemanjá. Ativista pela igualdade racial, Direitos humanos e desencarceramento; Defensora Popular formada pela Defensoria Pública de MG em 2017, Coordenadora cultural e de eventos Integrante do coletivo Juventude de Terreiro Cenarab MG, líder acelerada do programa Marielle Franco.
Laiara Amorim Borges -Belo Horizonte. Mulher negra mineira, oriunda de favela; Graduanda em Ciências Aeronáuticas, Pilota em formação. Comissária de voo atuante há 7 anos, Gestora da página @voe_como_uma_garota_negra, selecionada pelo clube de blogueiras negras edição 3, Membro do Comitê de Tripulantes negros do SNA; Cofundadora do Quilombo Aéreo e líder acelerada do Programa de aceleração de lideranças femininas negras: Marielle Franco, coordenado pelo Fundo Baobá.
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