Massacre em Manaus reforça imagem global de ‘inferno’ das prisões do Brasil

O massacre de mais de 50 pessoas dentro de um presídio de Manaus foi o assunto relacionado ao Brasil mais citado no resto do mundo neste início de 2017.

Por Daniel Buarque, do Blog do Brasilianismo 

Dezenas de reportagens em veículos de todo o mundo denunciam a barbárie registrada no Norte do país –com grande destaque para decapitações– e reforçam no resto do planeta a péssima imagem das prisões e dos direitos humanos no país, já comparado pela revista ”The Economist” a um sistema ”medieval”.

O caso mais recente ganhou destaque nos principais veículos de comunicação do mundo. O assunto estava na capa de portais como o ”Público”, de Portugal, a britânica BBC, o italiano ”La Repubblica”, o espanhol ”El País” e o britânico ”The Guardian”.

O jornal americano ”The New York Times” destacou o caso na capa de seu site durante a segunda (2). ”Rebeliões em prisões brasileiras são comuns”, diz. ”Mas o episódio de Manaus, que incluiu corpos decapitados atirados contra os muros da penitenciária, está entre os mais sangrentos das últimas décadas.”

A situação dos presídios brasileiros é destaque frequente no resto do mundo. A imprensa estrangeira e ONGs internacionais publicam reportagens e relatórios regularmente criticando o que chamam de ”terror” e situação infernal.

Uma análise publicada em 2015 pelo blog ”Brazil no Radar”, que existia antes deste Brasilianismo, dizia que os presídios brasileiros são associados ao completo terror no resto do mundo.

”Reportagens publicadas em alguns dos principais veículos de comunicação do mundo mostram o terror das prisões brasileiras. ‘Bem-vindo à Idade Média’, dizia o título da revista ‘The Economist’ em janeiro de 2014, descrevendo os presídios brasileiros como lugares infernais. “A punição ainda é vista pela sociedade brasileira como uma forma de vingança”, explicava o site da rede Al Jazeera sobre a barbaridade dessas prisões em dezembro de 2016.”

A crítica internacional e a imagem negativa associada às prisões brasileiras mancham a forma como o país é visto no resto do mundo e fazem com que questões de direitos humanos como estas deixem de ser apenas do interesse de grupos ligados à sua defesa. Garantir a integridade de prisioneiros do Estado é algo que é regularmente cobrado de países que querem ter relevâcia no cenário internacional –inclusive países que querem opinar a respeito como presos são tratados em outras localidades, como aconteceu no caso do brasileiro condenado à morte por tráfico de drogas na Indonésia.

”É comum ouvir um discurso simplista de que não há ‘pessoas de bem’ dentro das prisões, alegando que a brutalidade do local e o castigo são merecidos para criminosos. Entretanto, o respeito aos direitos humanos é parte fundamental do funcionamento de um país realmente democrático. Dentro de uma democracia que tem relações com o resto do mundo, garantir os direitos humanos para todos os cidadãos, inclusive criminosos, é uma exigência importante. ‘A forma como uma sociedade cuida de sua população prisional é um bom índice dos seus valores e da sua civilidade. Uma inspeção cotidiana do sistema penal do Brasil revela uma cultura que beira o sadismo’, diz uma reportagem do jornal ‘Los Angeles Times’ de 2014″, dizia a análise da imagem das prisões do Brasil no mundo.

Além da imprensa, importantes organizações globais como a Human Rights Watch com frequência criticam a situação carcerária do Brasil.

Em prisões superlotadas do Brasil, quem manda são os próprios detentos, denunciou um relatório da ONG internacional de direitos humanos em outubro de 2015. A ONG tem observado de perto a situação dos presídios brasileiros e se pronuncia regularmente com críticas a problemas no sistema carcerário do país. Segundo a entidade, ”as prisões do Brasil são um desastre de direitos humanos”.

Outro ponto importante é que a situação degradante dos preso e a imagem de terror nos presídios também está associada ao estereótipo internacional da violência policial no país, um dos mais fortes da atualidade.

”O Brasil como um todo tem um dos piores registros do mundo em assassinatos de e por policiais. Entre janeiro de 2011 e outubro de 2015, 2.510 pessoas foram mortas em ações da polícia na qual ela alegou se defender – uma média de 1,4 mortes por dia”, dizia reportagem do jornal inglês ”The Guardian”, um dos mais críticos à polícia brasileira, em dezembro de 2015. ”A maioria esmagadora das vítimas tende a ser de homens, jovens, negros de comunidades pobres.”

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