Mulheres em tempos de pandemia: os agravantes de desigualdades, os catalisadores de mudanças

A chegada do coronavírus tem trazido uma transformação completa da forma como vivemos, nos relacionamos e trabalhamos. Os dados mudam a cada hora e estamos todas e todos sem muitas respostas para a maioria das questões que se apresentam. Todos serão impactados direta e indiretamente pela pandemia. No entanto, mesmo em meio ao desconhecimento do que está por vir, uma coisa já está clara: o abalo sentido pelos grupos mais vulneráveis, especialmente as mulheres, será maior, mais profundo, mais complexo e certamente mais duradouro.

Da Think Olga

A Think Olga e a Think Eva existem para criar impacto positivo na vida das mulheres por meio de soluções inovadoras. Para alcançar este objetivo, nos dedicamos a conhecer a fundo a realidade de um problema para poder enfrentá-lo de forma efetiva e oferecer possíveis respostas. Este é o objetivo deste relatório: servir de radar, trazer informações de qualidade relevantes à perspectiva de gênero sobre a atual crise mundial, provocada pela COVID-19. Reunimos os problemas centrais -Violência, Saúde e Economia e Trabalho-, que, no contexto atual de crise, necessitam da nossa total atenção.

Segundo o documento “Gênero e Covid-19 na América Latina e no Caribe: Dimensões de Gênero na resposta”, publicado pela ONU Mulheres no dia 20 de março, “enfrentar uma quarentena é um desafio para todos, mas para mulheres em situação de vulnerabilidade pode ser trágico. No Brasil, onde a população feminina sofre violência a cada quatro minutos e em que 43% dos casos acontecem dentro de casa, essa preocupação é real”.

Mais de 13 milhões de pessoas no Brasil sobrevivem abaixo da linha da pobreza, com uma renda média de até 145 reais mensais. Entre essas pessoas, uma grande maioria é composta por mulheres, negras, mães, chefes de família que sustentam seus lares sozinhas. Pensar em populações mais atingidas por uma crise sanitária e econômica, portanto, é pensar em mulheres negras e de baixa renda. É pensar em mães solo. É pensar em trabalhadoras domésticas e enfermeiras, que neste momento, são a linha de frente de cuidado -com os outros- e de enfrentamento da pandemia.

Este relatório busca ser uma ferramenta para que você conheça as consequências da pandemia na vida das mulheres, hoje e no longo-prazo. Mas, acima de tudo, acreditamos que, ao trazer a dimensão do problema com informação de qualidade, podemos também pensar e propor soluções para preservar os direitos e a vida das mulheres no futuro próximo.

A PANDEMIA PELAS LENTES DE GÊNERO
Para compreender os impactos do COVID-19 na vida das mulheres, o que norteia a nossa análise é a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, principal marco na promoção dos direitos das mulheres, elaborado em 1995, durante a IV Conferência mundial sobre a mulher em Pequim, China. O evento ainda é o mais importante momento na conquista dos direitos das mulheres no mundo: pelo número de participantes que reuniu, pelos avanços conceituais e programáticos que propiciou, e pela influência que continua a ter na promoção da situação da mulher. Por exemplo, tanto a afirmação de que os direitos das mulheres são direitos humanos, quanto o objetivo de empoderamento da mulher, provêm deste encontro. Ali, foi feito um acordo adotado por 189 governos comprometidos com a promoção da igualdade de gênero. E este documento traz as 12 áreas fundamentais de trabalho para uma atuação efetiva pelos direitos das mulheres.

Em 2020, a Declaração de Pequim completa 25 anos, mas ainda estamos longe de alcançar as metas estabelecidas. Durante a 64ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres, o maior evento anual sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, realizada na sede das Nações Unidas, a diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka demonstrou a preocupação com os avanços pela equidade de gênero: “25 anos depois de Pequim, todas e todos reconhecemos que o progresso em relação aos direitos das mulheres não foi longe nem rápido o suficiente”.

Estamos tratando de problemas antigos, mas que, com um cenário de pandemia traz uma série de agravantes para a situação das mulheres. Neste contexto, analisar os efeitos da COVID-19 pelas lentes da Declaração de Pequim, um documento que norteia a agenda da promoção dos direitos das mulheres, é a melhor forma de compreender o quanto esta pandemia afetará mulheres em várias áreas, desacelerando os avanços tão urgentes para a equidade de gênero.

Porque, assim como a subsecretária-geral da ONU e diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, acreditamos que em grande crises surgem também oportunidades raras de governos, empresas e sociedade civil botarem a mão na massa. Um momento de, não apenas mitigar os riscos que o novo vírus traz, mas também de consolidar redes de apoio e colocar em prática a visão solidária e de equidade que há décadas tentamos construir para as mulheres.


Há espaço não apenas para resistência, mas recuperação e crescimento. Peço aos governos e a todos os outros prestadores e prestadoras de serviços, incluindo o setor privado, que aproveitem a oportunidade para planejar sua resposta à COVID-19 como nunca fizeram antes – e que levem em consideração a perspectiva de gênero, construindo proativamente conhecimentos de gênero em equipes de resposta
— Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres

PARA ESTE RELATÓRIO, LISTAMOS AS 3 PRINCIPAIS ÁREAS CORRELACIONADAS COM A CRISE SANITÁRIA E ECONÔMICA ATUAL, E O AUMENTO DA VIOLÊNCIA DECORRENTE DESTE CENÁRIO:

EIXO 1: Violência contra a mulher

EIXO 2: Mulher, trabalho e economia

EIXO 3: Mulher e saúde

 

 


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