Mulheres quebram barreira do preconceito e fazem grafite nas ruas de Salvador

Cada uma delas tem uma historia diferente, mas o amor pela arte de grafitar sobressai a cada traço. Um grupo de mulheres embeleza e traz mais criticidade para as ruas de Salvador com pinturas que trazem à tona temáticas sobre racismo, sexismo e o machismo.

por Andrea Chaves no Arauto Online

As cores vibrantes conquistam quem passa em frente ao muro grafitado. Bia Cristine, Erica Castro e Loah Silva conquistam cada vez mais espaço em um meio historicamente predominado por os grafiteiros do sexo masculino. “Nosso trabalho é um reflexo das nossas personalidades”, diz Erica Castro, 22 anos.

O grafite, que é uma especie de autobiografia, vem conquistando os baianos. Atualmente, o trabalho em grafite é reconhecido nacional e internacionalmente, mas houve época em que as pessoas que realizavam este tipo de trabalho era taxados de “vândalos”.

A arte urbana chegou ao Brasil no final dos anos 70. No entanto, a marginalização desse movimento cultural, e de outros da cultura hip hop e suas vertentes, limitou um registro exato do ano que ele chegou ao Brasil.

Para Loah Silva, a maior dificuldade foi dominar a técnica do spray. “Eu tinha a ideia na cabeça, sabia o que queria expressar, mas o que me faltava era como expor isto através do grafite” disse. A reação da família, segundo ela, foi positiva e a mãe é sua grande incentivadora.

“Lembro que quando fiz o meu primeiro trabalho levei minha mãe para ver. Ela ficou emocionada e pediu desculpas  pelas brigas que teve comigo, por chegar em casa com as roupas sujas de tintas,” sorriu ao relembrar de como era sua relação com sua mãe.

“Eu sempre tive uma afinidade enorme com a arte em suas diversas linguagens, pois a minha mãe é formada em artes plásticas, o meu pai gosta muito de fotografia e eu estudo ballet desde dos dois anos e meio” contou Bia Cristine.

Aos 15 anos, a grafiteira se formou em ballet, mas parou de dançar devido uma contusão. Para suprir essa necessidade de fazer ‘arte’ ela começou a produzir no grafite. Em 2011, iniciou as aulas de graffiti com Eder Muniz – conhecido como Calangos – grafiteiro que foi uma das inspiração da Bia. Antes de começar a grafitar, ela desenhava roupas e ilustrações. E são dessas ilustrações que saem os seus graffitis.

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Obra do Eder Calungos

Segundo a Bia, o processo de inspiração varia muito. “Minhas obras são reflexo dos meus sentimentos e questionamentos, pois através do desenho eu consego colocar pra fora tudo o que se passa em minha mente, o que é extremamente importante para o meu autoconhecimento”, ressalta.

A arte urbana se inspirou muito em grafiteiros como Eder Muniz, Tomaz Viana (toz), Aryz, e Nina Pandolfo. E também em outros movimentos e artistas, como Miró, Frida, Van Gogh, Pierrc Renoir, Gustav Klimt.

PRECONCEITO

Bia conta que, logo quando começou a grafitar, não conhecia nenhuma das grafiteiras locais, então sempre que iria participar de algum mutirão ou fazer algum trabalho com outros artistas, ela sentia um desconforto enorme em ser minoria – por ser mulher, negra e grafiteira – ali naquele espaço.

 

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Bia Cristine – Grafitando

No início, a jovem parou de grafitar ao sentir na pele a discriminação por ser do sexo feminino e ocupar um “espaço dos homens”. “Eu sempre ouvi dos outros colegas de grafite uma piadinha misógina ou comentários desnecessários, e isto é desestimulador, parei muitas vezes por isso. É ardiloso” confessou a jovem.

“Já aconteceu de uma senhora ligar para polícia porque me viu grafitando um muro próximo a sua casa, ela ‘mim’ (sic) disse que não gostava desse tipo de ‘gente’”, conta.

Mesmo com o aumento do número de mulheres inseridas no mundo do graffiti, elas ainda enfrentam muitas dificuldades de aceitação da sociedade para entender que graffiti também é coisa de mulher. Em Salvador, grandes projetos da área já foram tocados por artistas mulheres, como o muro da nova Concha Acústica, grafitado por Sista Katia.

A atitude e empoderamento dessas mulheres têm representatividade e serve de estímulo para outras mulheres que grafitam ou possuem interesse em fazer parte de maneira mais ativa.

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