Evento teve a presença de representantes da prefeitura, moradores da região e militantes do movimento negro
Texto: Pedro Borges no Alma Preta
No dia 5 de março, sábado, a sede de Itaquera do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, APEOESP, recebeu grande público para discutir, “Negrxs, Política e Poder no país da tal democracia racial: o que fazer?”.
Os convidados para incitar a conversa foram o professor da USP, Dennis de Oliveira, e a articuladora da campanha contra a redução da maioridade penal #15contra16, Gabriela Vallim. A mediadora da conversa foi a professora de História, Cidinha Freitas, e o organizador do evento, o blogueiro da Carta Capital e militante da UneAfro, Douglas Belchior.
A primeira etapa foi avaliada como um sucesso. Douglas recorda a presença massiva de negras e negros e o alto número de pessoas que foram ao encontro, mesmo em um sábado à tarde. Ele também destaca a participação de Dennis de Oliveira e Gabriela Vallim. “Os convidados foram incríveis. O professor Dennis fazendo um recorte mais histórico e trazendo à tona a importância do avanço da organização política da população negra. Por outro lado, a Gabriela trazendo todas as demandas próprias da juventude, próprias desse momento maluco que a gente vive por causa da confusão ideológica, da disputa das mentalidades”.
Dennis de Oliveira trouxe uma importante perspectiva histórica para explicar o porquê da população negra estar distante dos espaços de poder. Para ele, é impossível discutir racismo, um sofisticado mecanismo de opressão, e mudança social sem o entendimento da história, economia e política.
Para o professor da USP, o Estado brasileiro se constrói a partir de três grandes pilares. “É um Estado que se conforma com o processo de concentração de renda e patrimônio. O segundo pilar é a concepção restrita de cidadania. E o terceiro pilar é um Estado que se conforma com a violência como prática política central. O racismo surge então como ideologia para definir quem tem e quem não tem o patrimônio, quem é cidadão e quem não é cidadão e quem é o autor e a vítima da violência”.
Gabriela Vallim, também articuladora do programa Juventude Viva do governo federal, trouxe para a roda as experiências e dificuldades enfrentadas pela juventude negra no dia-a-dia. Mais do que isso, a jovem ressalta a importância do debate acontecer na periferia e destaca como o encontro foi recebido pela comunidade local. “Foi muito emocionante participar da atividade por ver o quão sedenta as pessoas estavam por um espaço onde elas se sentissem representadas, onde elas tivessem voz e onde elas pudessem compartilhar as suas ideias. Eu recebi muitas mensagens, das pessoas felizes por esse tipo de iniciativa aqui, no local onde elas moram”.
Neomisia Silvestre, organizadora da Marcha do Orgulho Crespo, é também moradora da Zona Leste e reforça a tese de que momentos como esse são fundamentais. “Encontros que partem de nós para nós são fundamentais para que possamos nos fortalecer. Saio dessas trocas/discussões muito esperançosa de que não estamos sozinhos e/ou estagnados, mas sim avançando na luta, ainda que diante de muitos episódios de retrocesso no que diz respeito ao negro no Brasil”.
Para o organizador da atividade, Douglas Belchior, o primeiro objetivo do projeto foi atingido no sábado, que é o de mobilizar as pessoas para debater formas de atuação coletiva contra o racismo estrutural. A segunda meta é a publicação, ao final do ano, de um livro com os artigos dos integrantes de cada mesa. “Com os nossos convidados escrevendo as suas impressões, transformaremos isso em texto e ao final desse ciclo de rodas de conversa, daqui 8, 10 meses, temos a meta de lançar uma publicação que traga esse registro para a eternidade”.
A próxima etapa deve acontecer no mês seguinte, na Zona Norte de São Paulo. O tema será o mesmo: Negrxs, Política e Poder no país da tal democracia racial: O que fazer?
Confira as entrevistas em áudio:
Douglas Belchior
Dennis de Oliveira
Gabriela Vallim