Por:Walmyr Junior
Estamos em meio a uma nova tentativa de erradicação da dependência do consumo de crack no Brasil. Já sabemos que nosso país é considerado o maior consumidor de crack do mundo, com cerca de um milhão de dependentes. Em meio a tanta tristeza e impotência das forças políticas brasileiras, vemos a prefeitura de São Paulo encampar um belo projeto, denominado ‘Braços abertos’, que tem por finalidade acabar com as conhecidas ‘cracolandias’ na cidade.
Em contraponto com a dinâmica da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, o programa da prefeitura de São Paulo vem proporcionando uma verdadeira reinserção social do usuário de crack. Afirmo essa argumentação por que convivo com uma dinâmica sociopolítica de limpeza urbana todos os dias no Complexo da Maré, onde a concepção da nossa prefeitura é totalmente diferente.
Em diversas favelas do Rio de Janeiro, infelizmente vemos as marcas do tráfico desta droga. Vemos ainda que de forma desastrosa as possíveis soluções que a prefeitura do Rio vem tentando dar para o problema só piora a situação dos usuários e da população que convive com eles.
Na tentativa de superar a crise de segurança no Estado do Rio, o combate à epidemia do crack tem como referência de atuação deter e prender os dependentes químicos e higienizar os espaços públicos por eles usados. Em consonância com esta repressão da liberdade desses meninos e meninas, está a internação compulsória. Essa medida por fim não segue todas as etapas de um tratamento eficaz e de um acompanhamento posterior à alta do paciente. Na maioria dos casos, os dependentes químicos retornam às ruas e caem novamente no vício.
Na cidade de São Paulo, o crack está sendo visto como um problema de saúde pública e não de segurança pública. Sabemos que existe um tráfico de drogas que alimenta o vício desses dependentes, porém a intervenção da polícia no projeto tende a ser secundária e só funcionar a partir da solicitação dos agentes de saúde que cuidam dos usuários nas ruas.
O projeto ‘Braços abertos’ não só financia uma residência para os usuários de drogas cadastrados, mas principalmente possibilita para os beneficiários diversos cursos de capacitação. Ele gera empregos em frentes de trabalho da prefeitura e busca meios para ocupar com o máximo de atividades a mente desse indivíduo.
Naquilo que tange a área da saúde, o projeto faz diversas consultas e recomendações para os cuidados com as DSTs, trabalha em torno do controle da natalidade com medicamentos anticoncepcionais intravenosos e distribuição de preservativo, realiza tratamentos de tuberculose nas próprias cracolândia e acompanha as mulheres grávidas durante o pré-natal.
A primeira atitude tomada pelo programa foi reconhecer a humanidade de cada usuário de crack. Entender que ele é vítima de um problema social é o caminho para uma possível solução. Segundo o prefeito Haddad, o acompanhamento dos resultados é a prova de que o projeto vem dando certo:
“Nós estamos monitorando, caso a caso, todos os cadastrados no programa. Há pessoas que estão há trinta dias sem usar drogas e outros que tiveram pequenas recaídas. Mas na média conseguimos reduzir no mínimo 50% da dependência e é uma grande vitória para a retomada da vida dessas pessoas”.
Enquanto a prefeitura do Rio tem como objetivo ‘limpar’ as ruas da cidade internando os usuários de crack, a prefeitura de São Paulo proporciona uma perspectiva de mudança na vida desses indivíduos. Além de não conseguir reinserir esse indivíduo em uma dinâmica social, como Haddad tem feito, nosso saudoso prefeito do Rio não programa nenhuma intervenção que possa mudar o cenário que vemos todos os dias.
Fica aqui o descontentamento de um morador que não consegue achar normal ver meninas e meninos caídos nas calçadas do meu bairro por causa da marginalização e consumo desenfreado do crack. Ver jovens que perdem a cada dia o seu direito de viver por causa dessa droga me faz enxergar que a política da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro é uma formidável ferramenta para garantir a criminalização da pobreza e das juventudes.
* Walmyr Júnior Integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro, assim como a equipe da Pastoral Universitária Anchieta da PUC-Rio. É membro do Coletivo de Juventude Negra – Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ
Fonte:jornal do Brasil