Os 50 anos do irrequieto Basquiat

Em O Nascimento da Tragédia, Friedrich Nietzsche estuda a dialética causada pelo aparecimento do deus Dionísio, que se opõe ao deus Apolo provocando a “erupção do caos” na beleza. Essa dicotomia é evocada por filósofos e críticos sempre que a arte vive um momento de ruptura, no qual obras “profanas”quebram a sacralidade da beleza artística. Essa metáfora ajuda a entender por que é crucial a obra do pintor americano Jean-Michel Basquiat, exposta no Museu de Arte Moderna de Paris.

 

A mostra celebra os 50 anos do nascimento do pintor, mas não apenas isso: ela é um retrato do movimento cíclico de alternância entre a sacralidade e a heresia na arte ao apresentar um “grafiteiro” nova-iorquino como um “mito”. É justamente essa dualidade que resume amostra: como Basquiat deixou as ruas e para brilhar nas grandes galerias de arte e museus nova-iorquinos em apenas 10 anos – ou como a arte profana se torna, com o passar do tempo, sagrada.

Basquiat é um perfeito exemplo para entender esse processo. Filho de uma mãe porto-riquenha e um pai haitiano, nascido em 1960 no Brooklyn, em Nova York, o jovem pertencia à classe média dos Estados Unidos, mas flertava com a marginalidade social e artística. Basquiat frequentava museus e desfrutou de boas escolas na infância, mas decidiu abandoná-las quando optou por explorar os bairros da zona sul de Manhattan, fazer deles seu hábitat natural e de seus muros o meio de expressão de seu grafite, que continha sua visão de mundo.

Esse personagem alternativo e underground, no entanto, seria logo “descoberto” pelo mercado artístico da Nova York do fim dos anos 70. Cortejado pelo mainstream da arte americana, Basquiat levou sua pintura, suas raízes afro e seus temas urbanos, como o desejo insaciável de liberdade, às galerias de arte descoladas de Manhattan e, finalmente, do mundo.

Aberta há 15 dias, a mostra foi organizada por Dieter Burchhart e por Marie-Sophie Carron de la Carrière. Seu objetivo é fazer uma retrospectiva ampla, reunindo em um só espaço mais de cem obras, ou cerca de 10% de toda a produção do artista. “Jean-Michel Basquiat era radical em suas arte e em sua vida”, explica Burchhart. “Como James Dean, Jimi Hendrix, Janis Joplin, ícone de Woodstock, a vida de Basquiat é marcada por sua morte prematura e sua arte singular, que também se torna um mito.”

Em 12 salas, o visitante descobre suas heresias artísticas iniciais, em 1978, quando ainda assinava seus grafites como Samo (Same Old Shit), até a produção conjunta com Andy Warhol e sua morte precoce por overdose de heroína, em agosto de 1988. Entre um e outro acontecimento, mergulha-se em sua genialidade, talvez o fator que explique a transição do artista profano rumo ao sagrado.

Estão lá telas como Untitled (Skull), Untitled (Fallen Angel) e La Hara, produções do período em que esteve ligado à Annina Nosei Gallery, entre 1981 e 1983. Também constam da mostra Jawbone of an Ass (1982), Low Pressure Zone (1982) a desconcertante série de retratos de boxeadores como Sugar Ray Robinson e Cassius Clay (1982) e a sequência Kings, Heros and the Street (1982), que exemplificam as técnicas particulares, a riqueza das cores, a força e a violência das imagens, a anarquia e a revolta de um vagabundo mitológico que valorizava suas intuições e seus instintos de base.

Basquiat2

 Fonte: Estadão

+ sobre o tema

Dia do Futebol – 19/07

Dia 19/07, comemora-se o Dia do Futebol. A data...

2ª Cavalgada da Liberdade homenageia Zumbi dos Palmares

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, participará neste domingo...

Ben Affleck pediu segredo sobre antepassados que eram donos de escravos

Segundo e-mail revelado pelo WikiLeaks, ator solicitou que programa...

Fotógrafa retrata o cotidiano de tribo semi-nômade em região remota da Namíbia

A fotógrafa Susan Portnoy passou alguns dias no deserto...

para lembrar

300 Pela Dança – Aula aberta de dança afro

18 de abril, às vésperas da Lua Cheia. Sua...

Jardim das Folhas Sagradas: Um cinema com a cara do Brasil

Jorge Portugal Deve estrear em breve o filme "Jardim das...

Discografia do Racionais MC’s chega ao Spotify

A discografia do Racionais MC’s agora pode ser ouvida integralmente na...

Hamilton é vítima de racismo e FIA deve investigar caso

Atual campeão mundial e atual sétimo colocado no Mundial...
spot_imgspot_img

Musical conta trajetória da cantora, ativista e deputada Leci Brandão

O respeito é o sentimento mais citado pelos artistas que participam do musical Leci Brandão - Na palma da mão. O espetáculo conta a trajetória...

James Earl Jones, a voz de Darth Vader e de Mufasa, morre aos 93 anos

O ator e dublador James Earl Jones, eternamente lembrado como a voz do vilão Darth Vader, morreu nesta segunda (9) aos 93 anos, em...

The Wailers anunciam shows no Brasil em comemoração aos 40 anos do ‘Legend’

The Wailers comemora dois marcos significativos neste ano: o aniversário de 40 anos do álbum Legend, com Bob Marley, e o lançamento da cinebiografia Bob Marley: One Love. Sob...
-+=