Os rostos da Mestra Irinéia do Muquém.

Por: Arísia Barros

 

D. Irinéia tem 63 anos de idade misturados aos tantos outros, como sobrevivente da áspera vida de quem nasceu e vive no Muquém, comunidade de remanescentes quilombolas, aos pés da Serra da Barriga.

Como tantos e muitos quilombolas é analfabeta. É alto o índice de analfabetismo nos quilombos alagoanos.

Na Serra da Barriga foi gerado o referencial da resistência negra: o Quilombo dos Palmares.
A Serra da Barriga fica localizada em União dos Palmares, na região do vale do Paraíba e Mundaú, no estado de Alagoas, região do nordeste do Brasil.

O estado de Alagoas é pólo position na questão das desigualdades sócio-étnicas. Está sempre na primeira posição em relação aos outros estados da federação e faz tempo não cede lugar para nenhum outro.

A omissão estatal em rever com políticas estruturantes, cumulativas e compensatórias, o racismo como fato social, produz a mutilação da historicidade afro brasileira, na terra do líder negro que marcou a história da humanidade: Zumbi dos Palmares.

É gritante a subcidadania dos quilombolas em Alagoas!

D. Irinéia mora no Muquém, em União dos Palmares, no estado de Alagoas, e apesar da precariedade de políticas públicas do território, a velha senhora resiste,e, persistentemente usa sua multiplicidade de talentos para dar vida ao barro.
Desde 13 de maio de 2005 é considerada patrimônio imaterial, registrado no livro de Tombo nº 05, à folha 07 frente.

A geografia artística da Mestra Irinéia expressa, com a simplicidade dos sábios, a experiência da beleza cultivada como patrimônio de um povo, recheada das histórias inteiras de reinos e saberes esquecidos pelas memórias contemporâneas.

A expressão mais profunda de um povo é a captura de sua história.
E Dona Irinéia aprendeu a dar significado às cabeças de barro que produz.
Em uma observação mais acurada é percebível, em algumas de suas cabeças, a ausência de olhos abertos ou ouvidos ouvintes, entretanto o canal da respiração está bem posto nos condutos nasais alargados, como a nos lembrar que, de uma forma quase visceral os quilombolas fazem dessa história o oxigênio que os mantêm vivos.
E respiram como fenômeno natural de continuidade.

Na verdade a Mestra Irinéia é uma oleira na construção de formas para reproduzir os territórios de saberes de seu povo. E toda uma história de resistência.
Consciência negra!

Os quilombos em Alagoas traduzem o modelo contemporâneo do racismo.

 

Fonte: Cadaminuto

+ sobre o tema

Recife – O Racismo e as Mulheres Negras

Promovido pela Secretaria da Mulher do Recife, o evento...

Incra ajuíza desapropriações de imóveis rurais para titulação de quilombolas na Bahia

Pela primeira vez, a superintendência regional do Incra ajuíza...

Quilombolas são foco de acordo entre a Seppir e o Maranhão

Cooperação será firmada nesta quarta-feira (04), às 10h, no...

para lembrar

Parceiros discutem Encontro do Ano Internacional dos Afrodescendentes

Agendado para acontecer em Salvador, nos dias 17, 18...

Espaços de sociabilidade e ações anti-racismo no cotidiano das elites negras na cidade de São Paulo

Espaços de sociabilidade e ações anti-racismo no cotidiano...

Seppir seleciona projetos sobre Consciência Negra

  O Diário Oficial da União divulgou nesta sexta-feira (12)...
spot_imgspot_img

João Cândido e o silêncio da escola

João Cândido, o Almirante Negro, é um herói brasileiro. Nasceu no dia 24 de junho de 1880, Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul....

Levantamento mostra que menos de 10% dos monumentos no Rio retratam pessoas negras

A escravidão foi abolida há 135 anos, mas seus efeitos ainda podem ser notados em um simples passeio pela cidade. Ajudam a explicar, por...

Racismo ainda marca vida de brasileiros

Uma mãe é questionada por uma criança por ser branca e ter um filho negro. Por conta da cor da pele, um homem foi...
-+=