Cientistas do Pasteur de Senegal estão em SP para ajudar no combate ao vírus
Por STELLA BORGES, do O GLOBO
Pesquisadores do Instituto Pasteur de Dakar, no Senegal, que participaram ativamente do combate ao surto de Ebola na África, estão em São Paulo para ajudar cientistas brasileiros no combate ao vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti. O grupo chegou à capital paulista nesta semana para se juntar à Rede Zika, criada há cerca de um mês por cientistas, professores e alunos de instituições e laboratórios para investigar o vírus e o aumento no número de casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré no país.
Liderados por Amadou Alpha Sall, renomado especialista em epidemia e controles virais, os senegaleses têm o desafio de treinar pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e ajudá-los na implantação de um teste rápido e eficaz para diagnosticar a doença, feito por sorologia. Durante o surto de ebola, os cientistas conseguiram criar um teste que detectava a doença em apenas 15 minutos. A análise rápida permitiu o diagnóstico em locais afetados pela epidemia que atingiu o Oeste da África.
De acordo com Paolo Zanotto, coordenador da rede Zika e pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, a equipe brasileira já conseguiu desenvolver um teste molecular de detecção do vírus. Segundo ele, no entanto, esse método é pouco eficaz já que não consegue identificar o zika passado o período de infecção, que costuma ser de apenas dois ou três dias.
– A sorologia deixa um ‘traço’ na pessoa. Assim eu consigo saber se ela foi infectada há tempo, enquanto que o diagnóstico molecular fala se a pessoa tem o vírus agora. Quando a pessoa manifesta os sintomas dois, três dias depois já não tem mais sinais do vírus no sangue. Então, o diagnóstico molecular se torna complicado – explicou o pesquisador.
Além do diagnóstico, os senegaleses devem contribuir no estabelecimento de técnicas de isolamento e cultivo do vírus e na confirmação de que os casos de microcefalia são realmente causados pelo zika. Parte da equipe também tem a intenção de visitar cidades do Nordeste, região que concentra o maior número de ocorrências de microcefalia: são 2.589 casos suspeitos do total de 3.174 investigados no país.
– Temos boas evidências, porque as duas ocorrências estão acontecendo no mesmo espaço de tempo, mas ainda não é certeza absoluta. Por enquanto, a relação [entre zika e microcefalia] é circunstancial. Se quisermos falar sobre zika temos que ter certeza absoluta biologicamente falando. Por isso, a importância do diagnóstico – disse Amadou Sall.
A vinda da equipe do Senegal ao Brasil integra um acordo de cooperação assinado entre a USP, o Instituto Pasteur, a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e com apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP). Os pesquisadores africanos devem ficar no Brasil até o próximo dia 19.