Vivendo de maneira independente, ela optou por não se casar, dedicou-se à costura, tocava violão e escrevia livros que ilustram como jovens negras, nascidas em favelas como a dela, podem alcançar grandes alturas na vida. Aclamado na literatura brasileira, o livro “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do país, está prestes a receber uma adaptação cinematográfica. O responsável pela direção desse projeto é Jeferson De.
A divulgação foi feita pela Globo Filmes por meio de suas redes sociais na terça-feira passada, dia 21, um dia após as comemorações do Dia da Consciência Negra no Brasil, que coincide com o falecimento do líder quilombola Zumbi dos Palmares em 1695.
O post informa que “#QuartoDeDespejo, de Carolina Maria de Jesus, vai virar filme! Marco das literaturas negra, feminina e periférica brasileiras, o livro reúne textos em que Carolina revela a realidade opressora que vivia na década de 1950, quando morava na favela do Canindé, em São Paulo, e penava para alimentar os filhos como catadora de papel”, declara a mensagem compartilhada pelo Instagram.
Quem é Carolina Maria de Jesus
Considerada uma das maiores escritoras brasileiras do século XX, Carolina Maria de Jesus foi multiartista, cantora e escritora de contos, crônicas, letras de música e peças de teatro. Amplamente conhecida pela triste história em Sacramento, Minas Gerais, seu percurso migratório e, principalmente, pelos anos vividos na Favela do Canindé, Carolina enfrentou a fome, o machismo, o racismo, a inflação e a pobreza dos anos 60.
“Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” é talvez uma de suas grandes obras sobre as questões de uma situação que ainda é uma realidade brasileira. Mulher negra, catadora de papelão, mãe solteira e semianalfabeta, Maria de Jesus buscava no lixo tanto alimento quanto papel para escrever seu diário, poemas e músicas. Essa luta também era para garantir o sustento de sua família: José Carlos, João José e Vera Eunice, seus três filhos.
O jornalista Audálio Dantas foi com objetivo de escrever sobre a comunidade às margens do Tietê e lá encontrou a escritora, juntamente com seus cadernos de anotações. A escritora mostrou então seu diário a Dantas e lá ele viu uma escrita inédita, na qual viria a transformar a literatura brasileira.
Os escritos foram publicados na edição de 9 de maio de 1958 da Folha da Noite. O interesse da população pelas suas palavras e críticas foi notável, e no ano seguinte, os relatos da autora também ocupavam as páginas da revista O Cruzeiro. Sob a edição de Dantas e lançado em 1960, “Quarto de Despejo” tornou-se um best-seller, sendo traduzido para 13 idiomas e adaptado para o teatro e a televisão.
Em uma entrevista à TV Globo no ano de 2021, a filha de Carolina e professora, Vera Eunice, lembra a reação de sua mãe ao receber o livro em mãos. “Quando ela recebe o livro ‘Quarto de Despejo’ impresso, ela coloca assim, no alto, eu lembro como se fosse hoje, e ela lê. Eu vi a felicidade no olhar dela – ‘Carolina Maria de Jesus, Quarto de Despejo’. Ela estava muito feliz porque tinha alcançado o objetivo dela”, destacou emocionada.