Nas rimas, os problemas sociais são trazidos ao público pela juventude de forma criativa e potente
por Elen Carvalho no Brasil de Fato
Nas periferias de Salvador, as batalhas de poesia são momentos de criação e resistência cultural e política. Popularizadas como Slams desde a década de 1990, essas disputas remontam aos griots, aos movimentos pelos direitos civis e afirmação negra norte-americana, às performances literárias contemporâneas e ao hip hop. A potencialidade desses espaços está no diálogo entre as diferenças, na troca de conhecimentos, na irreverência e na livre expressão de cada participante. Slam da Onça, Slam da Raça e Slam das Minas são alguns exemplos que acontecem na capital baiana.
O Sarau da Onça, coletivo que promove atividades culturais no bairro de Sussuarana, realiza o Slam da Onça desde 2014. A produtora Brenda Gomes explica que a vontade de organizar o Slam surgiu quando integrantes do Sarau participaram de uma edição em São Paulo. “A gente percebeu que aqui ainda não tinha esse processo e decidimos fazer a primeira edição, depois fizemos a segunda e foi acontecendo. A comunidade tem participado cada vez mais, porque é uma proposta nova de poesia. É um espaço gostoso, de sentir a poesia das pessoas”, relata.
Em março deste ano aconteceu o primeiro Slam das Minas – Bahia. Batalha de poesia feminina idealizada por Dricca Silva, Fabiana Lima, Jaqueline Nascimento e Ludmila Laísa que ocorre no bairro do Cabula. A ganhadora dessa primeira edição foi Amanda Rosa. Ela reflete sobre os temas recorrentes das poesias autorais recitadas nestes encontros: “A juventude negra, as/os LGBTs têm se inserido, cada vez mais, neste espaço. E o que mais as poesias têm pautado são temas como o racismo, a importância do feminismo. Porque a poesia que se faz é a poesia marginal, que vai trabalhar os elementos da realidade dessas populações”.
De acordo com Amanda Rosa esse “tem sido um espaço onde as mulheres têm conseguido estar à frente do processo. Inclusive, através dos Slams, elas têm conseguido se inserir no rap. Através desse lugar, a juventude tem começado a se organizar e a participar de coletivos. Começa a enxergar os problemas sociais”.
Nesse mesmo sentido, Brenda Gomes afirma que “a batalha de poesia, assim como a batalha de rima, assim como a batalha de break e todos esses movimentos periféricos são fundamentais na constituição da nossa sociedade. A gente percebe as escolas cada vez mais fechadas para esse tipo de cultura. E, sem esses movimentos, a gente não conseguiria penetrar na cabeça dos jovens, a gente não conseguiria despertar um interesse para essa conquista de direitos”.