No dia 14 de março de 2018, acompanhamos a notícia do assassinato da vereadora Marielle Franco do PSOL do Rio de Janeiro e de seu motorista, Anderson Gomes.
Mais de 10 meses se passaram e até agora nenhuma resposta foi dada sobre o ocorrido.Quem matou Marielle?
Na visita de Ângela Davis à Bahia, em julho de 2017, afirmou que “quando a vida das mulheres negras importar, teremos a certeza de que todas as vidas importam”.
A nossa realidade pré- capitalista, sua economia escravista e todo o ambiente político desde o período colonial legitimava uma cultura de racismo.
Tratando dessas condições estruturais, Fernandes[1](p.218) indica que “a cada passo este se reapresenta na cena histórica e cobra seu preço”.
O atlas da Violência 2018[2], produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada(IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apresenta na pratica essa realidade, naúltima década,a taxa de homicídios de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não negras.
Nesse caminhar, consideramos a participação política do feminismo negro como essencial para que mudanças sociais possam emergir como destacado por Angela Davis[3]:
O feminismo negro emergiu como um esforço teórico e prático de demonstrar que raça, gênero e classe são inseparáveis nos contextos sociais em que vivemos.
Na época do seu surgimento, com frequência pedia-se às mulheres negras que escolhessem o que era mais importante, o movimento negro ou o movimento de mulheres.
A resposta era que a questão estava errada. O mais adequado seria como compreender as intersecções e as interconexões entre os dois movimentos. (DAVIS, 2018, p. 21).
A escassez de políticas públicas e a divisão sexual do trabalho acentuam as desigualdades de gênero, as contribuições de Carneiro[4](2003) nos mostra também que a questão social se expressa de forma diferenciada para esse grupo e que a ordem posta:
[…] visa amortizar a crescente tomada de consciência e a capacidade reivindicatória dos afrodescendentes, especialmente o segmento mais jovem, assim impedindo que o conflito racial se explicite com toda a radicalidade necessária para promover a mudança social.
Portanto, é necessário que sejam desenvolvidas ações voltadas às mulheres negras, que as categorias interseccionais raça, classe e gênero sejam consideradas com vistas a implementação de políticas públicas para garantia de direitos, como também uma maior atuação do judiciário para reduzir os índices de violência em nosso país.
Encerro afirmando com Davis “Quando as mulheres negras se movem, toda a estrutura política e social se movimenta na sociedade”.Obrigada, Marielle pela sua coragem.
É preciso lembrar isso todos os dias. Todos temos uma função a cumprir. Marielle presente hoje e sempre.
[1]FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5ªed. São Paulo: Globo, 2005.
[2]http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas_da_violencia_2018.pdfAcesso em 12 de jan de 2019
[3]DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante – Ferguson, Palestina e as bases para um Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 9, N. 2, 2018, p. 1080-1099. Ângela Figueredo DOI: 10.1590/2179-8966/2018/33942| ISSN: 2179-8966 1098 movimento. (ed) BARAT Frank, São Paulo, Boitempo, 2018
[4]Movimento Negro no Brasil: novos e velhos desafios, por Sueli Carneiro Texto disponível em www.geledes.org.br
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