Ato na Champions une negros e brancos em marco da luta antirracista no futebol

A bola parou de rolar, e os olhares do mundo se voltaram à beira do gramado, onde os jogadores discutiam com os árbitros da partida. Aos poucos, as informações foram sendo divulgadas e tomamos conhecimento de mais um caso de racismo no futebol. Desta vez, porém, foi diferente.

No jogo entre PSG e Istanbul Basaksehir, o ato de racismo foi praticado por membro do quadro da arbitragem, algo que não é comum. Aquele que deveria zelar pela aplicação da lei e da ordem cometeu um crime que não passou impune graças à indignação de Demba Ba.

Com o início da confusão, a primeira reação do árbitro da partida foi expulsar o atleta do Istanbul, numa atitude comum aos árbitros quando percebem um jogador exaltado. Mas numa atitude errada, afinal estava deixando em campo o agressor e expulsando as vítimas de atitudes racistas.

Tudo mudou quando os atletas das duas equipes decidiram abandonar o campo se o acusado não fosse retirado da partida. Um marco no futebol mundial.

Em diversas oportunidades, jogadores ofendidos não foram amparados por seus companheiros de equipe, não tiveram a solidariedade dos atletas do time rival e ainda foram expulsos da partida após reagirem aos insultos racistas.

Em todos esses casos, o que mais se ouviu é que esses jogadores deveriam abandonar de fato o jogo e que os demais atletas negros deveriam ser solidários. Na verdade, todos os jogadores deveriam abandonar a partida, e isso aconteceu nesta terça (8).

O dia 8 de dezembro de 2020 ficará marcado como uma data importante na luta antirracista no futebol, o dia que atletas brancos e negros se uniram na luta contra o racismo.

O incidente mostrou que não podemos esperar das entidades que comandam o futebol atitudes severas e fortes, afinal a Uefa tentou que o jogo voltasse. A principal entidade da Europa quis resolver a questão rapidamente e voltar ao espetáculo, mas os atletas mostraram sua força e se recusaram a jogar.

A mudança não virá de quem comanda e controla o futebol. Ela acontecerá a partir da mobilização dos atletas, também dos torcedores, de todos, não só dos negros.

Esse exemplo nós já tínhamos visto da NBA, onde os atletas se mobilizaram, exigiram mudanças e foram atendidos e respeitados pela liga.

Em Paris, o futebol mostrou que a mudança se faz com atitudes e que não é um esporte praticado por alienados. Não é simplesmente o espelho da sociedade, como se o fato de o racismo existir fora dos campos significasse que dentro ele também existirá, e que o jogo precisa seguir.

O futebol é um espetáculo, mas nesta terça a questão financeira não foi mais forte que a de humanidade.

Amanhã, quando um novo caso de racismo acontecer, não saberemos qual será a reação dos atletas, se haverá novamente indignação com o ato e solidariedade com a vítima, mas certamente quem estiver em campo e fora dele lembrará do que fizeram os jogadores do PSG e do Istanbul.

A luta contra o racismo no futebol ganhou um capítulo importante no esporte que não pode prescindir dos corpos negros, mas que ainda não aprendeu a respeitá-los.

+ sobre o tema

O racismo inverso existe e precisa ser combatido

Mais uma vez falando sobre racismo, mas dessa vez...

Está na moda ser preto, desde que você não seja preto

É bem comum encontrar nas redes sociais algumas pessoas...

para lembrar

O racismo inverso existe e precisa ser combatido

Mais uma vez falando sobre racismo, mas dessa vez...

Está na moda ser preto, desde que você não seja preto

É bem comum encontrar nas redes sociais algumas pessoas...
spot_imgspot_img

Justiça para Herus, executado em festa junina no Rio

Não há razão alguma em segurança pública para que Herus Guimarães Mendes, um office boy de 23 anos, pai de uma criança de dois...

Em tempos de cólera, amor

Planejei escrever sobre o amor numa semana mais que óbvia. Eu adoro esta data capitalista-afetiva que é o Dia dos Namorados. Gosto que nossa...

Lula sanciona lei de cotas para negros em concurso e eleva reserva de vagas para 30%

O presidente Lula (PT) sancionou nesta terça-feira (3) a prorrogação da lei de cotas federais, que passa a reservar 30% das vagas para pretos e pardos em concursos...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.