Carta à Desembargadora Luislinda Valois, secretária da SEPPIR.

Joselita de Souza, a mãe do Roberto Penha, o Betinho morreu, abruptamente, na  manhã de quinta-feira, 07/07.  É a sexta vitima dos 111 tiros deflagrados, no final de 2015,  na chacina em Costa Barros,  um bairro pobre na Zona Norte do Rio de Janeiro e  o penúltimo no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Por Arísia Barros, no Raízes da África

A mãe do Betinho, Joselita de Souza infartou de tanta dor, pela ausência física do filho.

Betinho, aos 16 anos, foi covardemente assassinado  pelo estado, junto com os amigos: Carlos Eduardo da Silva de Souza, com a mesma idade, Cleiton Correa de Souza, 18 anos, Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos e Wesley Castro Rodrigues, 25 anos.

Roberto de Souza Penha fazia o Curso de auxiliar de  Administração. O curso era pago pelo supermercado em que ele havia começado a trabalhar há um mês. Ao receber o primeiro salário de R$ 400, fez questão de chamar os amigos para comemorar, mas, na saída encontraram a  Polícia Militar e foram todos fuzilados.

Não houve abordagem, Excelência.

Não houve perguntas.

Não estavam armados.

Não portavam drogas.

O crime que cometeram?

Eram todos jovens pretos e pobres. Betinho e seus amigos foram assassinados porque eram pretos e  moravam em territórios de pretos.

E os territórios pretos são periferias sociais e econômicas,  vigiadas, acossadas, oprimidas pela repressão policial.

O racismo é um sistema de opressão institucionalizado no Brasil, Excelência.

Assim como Costa Barros, no Rio de Janeiro, Cabula, em Salvador e no bairro do Jacintinho, em Maceió os territórios são de pretos. Confinados a um programado  genocídio , naturalizado,consentido e silenciado pelo estado brasileiro.

Vivemos uma diáspora infinita.

Joselita de Souza, a mãe de Roberto Penha,  infartou de indignação por não acreditar na hierarquizada  seletividade da justiça brasileira.

Os algozes de seu filho e outros jovens já estão em liberdade.

Joselita de Souza, a mãe de Roberto Penha, infartou de tanto desgosto. E a alegria foi esvaindo de sua alma. Vivia triste. E tristeza  resultante do racismo, institucionalizado, mata, Excelência.

São tantos, inúmeros, incontáveis, anônimos e  invisíveis corpos pretos que se fundem na estatística invisível dos autos de resistência.

O estado como criatura faz às vezes de um assassino, impetrando  profundos  agravos físicos e letais  no futuro de tantos jovens.

Joselita de Souza, a mãe de Roberto Penha, infartou por viver em um país onde se mata vinte e quatro jovens  por dia, um por hora, quase todos pret@s.

Realidades cristalizadas.

Estamos em uma Guerra Civil, Excelência. E os inimigos do estado somos nós, o povo preto.

Qual será, precisamente, a política que a SEPPIR  adotará para conter esse genocídio institucionalizado, Excelência?

Qual?

 

+ sobre o tema

Para produtores e diretores negros, fazer cinema no Brasil ainda é ‘uma guerra’

Exemplo do problema é personificado em Viviane Ferreira, segunda...

Vestibulando de medicina é alvo de racismo nas redes

O jovem negro estudará na Universidade de Buenos Aires...

Jogador marroquino do Auxerre acusa bandeirinha de racismo

Meia Kamel Chafni diz que árbitro assistente teria o...

Estudante de design de faculdade em BH acusa professora de injúria racial

Uma aluna da faculdade Estácio de Sá de Belo...

para lembrar

Eu dentro de mim

Já que o mundo está em medida de contenção...

Teorias e práticas científicas legitimam produção de iniquidades, alertam pesquisadores reunidos no Recife

O Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz Pernambuco) promoveu,...

Inocente é amarrado e torturado no meio da rua

Homem inocente foi amarrado e agredido por moradores (Foto: José...

Após “adote bandido”, Sheherazade e SBT são denunciados por apologia ao crime – Por: Patrícia Moraes

O Ministério Público deverá investigar comentário polêmico da jornalista...
spot_imgspot_img

Geledés repudia caso de racismo contra Vera Lúcia, ministra do TSE  

A ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Vera Lúcia Santana Araújo, sofreu um episódio de racismo no dia 16 de maio. A magistrada foi...

Ministra do TSE relata humilhação e racismo em evento do governo: ‘Vou ajuizar tudo, indignidade’

A ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Vera Lúcia Santana diz se sentir humilhada e promete entrar na Justiça após denunciar episódio de racismo em evento do governo...

Caso João Pedro: família cobra júri popular para policiais acusados

Familiares e defensores dos direitos humanos protestaram nesta terça-feira (20) com faixas em frente a sede do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), no centro...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.