Documentário conta a história de Dona Lazinha, a primeira mãe de santo de Presidente Prudente, símbolo da resistência negra

Enviado por / FontePor Leonardo Bosisio, do g1

Lançamento será nesta sexta-feira (20), às 19h, no Museu e Arquivo Histórico, no Jardim das Rosas.

O documentário “Sankofa: Quem foi Dona Lazinha?” conta a história de Lázara Bernardino de Jesus, a primeira yalorixá (mãe de santo) de Presidente Prudente (SP). O lançamento será nesta sexta-feira (20), às 19h, no Museu e Arquivo Histórico Municipal Prefeito Antônio Sandoval Netto, no Jardim das Rosas, e aberto ao público.

Segundo uma das produtoras do audiovisual, Fabiana Alves, haverá uma exposição com indumentárias ritualísticas que estão sob cuidados do Museu e uma instalação cenográfica que traz a ideia de que Dona Lazinha foi notícia e, por isso, faz parte da história da cidade.

“A partir de jornais, [o produtor cultural] Celso Aguiar reconstrói a estética de entidades e orixás da cultura afro-brasileira e africana, em uma instalação que traz como argumento principal a ideia de que Dona Lazinha foi notícia, portanto, faz parte da história da cidade”, enfatizou Fabiana ao g1.

Vestimentas expostas no Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente (SP) (Foto: Leonardo Bosisio/g1)

Além das vestimentas, serão expostas fotografias doadas do acervo pessoal da família.

O documentário tem 18 minutos de duração e, após a estreia, estará disponível a partir do dia 2 de fevereiro no canal da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) no YouTube. Além disso, os interessados ainda poderão assistir ao material no próprio Museu, entre os dias 21 e 28 de janeiro, período em que a exposição permanecerá instalada.

Vestimentas expostas no Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente (SP) (Foto: Leonardo Bosisio/g1)

Quem foi Dona Lazinha?

Conforme Fabiana Alves, Lázara Bernardino de Jesus foi uma mulher negra retinta que chegou a Presidente Prudente em 1934 e estabeleceu-se na região onde, atualmente, encontra-se o bairro Jardim Paulista.

Dona Lazinha fundou a Tenda de Umbanda São Jorge Guerreiro, em 1939, e teve uma atuação “expressiva” com ações sociais e, ainda segundo Fabiana, ficou conhecida por seus trabalhos com benzimento, que lhe renderam o título de “Médica dos Pobres”.

Dona Lazinha, a primeira mãe de santo de Presidente Prudente (SP) (Foto: Museu e Arquivo Histórico)

Além disso, a yalorixá recebeu em seu terreiro o então embaixador do Senegal no Brasil, durante uma visita do diplomata a Presidente Prudente para participar da Semana Afro.

Ela faleceu em 29 de dezembro de 1978 em decorrência de um derrame cerebral.

“Quando nos debruçamos a olhar a existência da Dona Lazinha, para além de ser uma mulher negra, que acreditamos ter sido filha de pessoas escravizadas, vemos uma mulher que extrapolou o seu tempo, que questionou um padrão estético, cultural e religioso em uma localidade que ainda estava em desenvolvimento e que era regida por grandes coronéis”, ressaltou Fabiana ao g1.

Dona Lazinha, a primeira mãe de santo de Presidente Prudente (SP) (Foto: Museu e Arquivo Histórico)

Ainda conforme a produtora, Dona Lazinha foi uma importante agente cultural e se manteve firme, ocupando importantes espaços sociais, em diferentes períodos conturbados da história do país.

“Observamos que a sua comunidade de axé foi construída após 51 anos que a abolição da escravidão havia sido promulgada e se manteve em atuação, inclusive com ações públicas, no período em que se estabeleceu a ditadura militar [1964-1985]. Lazinha representa a potência da mulher negra em suas mais diversas formas de (r)existência”, salientou Fabiana.

Documentário

O audiovisual começou a ser elaborado após uma conversa de Fabiana Alves com a diretora do Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente, Valentina Romero. Nesta conversa, a responsável pelo local a convidou para fazer a curadoria de algumas peças que pertenceram a uma mãe de santo e haviam sido doadas ao Museu, porém, estavam sem registro descritivo.

“Como sou ligada ao movimento negro da cidade e este é um tema que me interessa e que tenho me dedicado a estudar, me comprometi a auxiliar nesta curadoria e, a partir dela, resolvi fazer uma pesquisa mais aprofundada”, relembrou Fabiana ao g1.

E, após o surgimento do Edital Cultura e Arte por Toda Parte, da Secretaria Municipal de Cultura, a proposta do documentário foi inscrita e aprovada em primeiro lugar na categoria de produção audiovisual.

“Acho importante salientar que este trabalho ainda é um projeto em desenvolvimento, ou seja, um projeto embrionário que se ocupou em construir a imagem de Dona Lazinha, a nossa personagem real, que foi apagada da história, mas que se manteve viva na memória das pessoas”, reforçou a produtora.

O documentário demorou seis meses para ficar pronto, contando o levantamento bibliográfico, o encontro de pessoas que pudessem ser entrevistadas, a gravação e a edição do vídeo. Ele foi realizado por cinco pessoas: Fabiana Alves, Talita Galindo, Celso Aguiar, Caique Souza Leite e Altemar Ribeiro, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e do Museu de Presidente Prudente.

“Defendemos neste projeto a importância da manutenção do acervo do arquivo histórico municipal, pois não existe uma cidade com um futuro próspero sem que a sua população conheça o passado”, ressaltou Fabiana.

“Com isso, o Museu passa a ser um aliado, e que, apesar de ser um lugar destinado a guardar referências históricas, é perceptível que o seu acervo permanente ainda é composto somente pelas histórias ‘dos vencedores’, ou seja, pelas histórias das famílias brancas e ricas da cidade. Esse espaço conquistado nos leva a contar a história preta de Presidente Prudente, afinal, quem já pensou que Prudente poderia ter uma mãe de santo famosa entre as décadas de 30 e 70?”, finalizou a produtora ao g1.

Serviço

O Museu e Arquivo Histórico de Presidente Prudente está localizado na Rua Doutor João Gonçalves Foz, n° 2.179, no Jardim das Rosas.

O horário de funcionamento de terça a sexta-feiras é das 8h às 12h e das 13h às 17h. Já aos sábados, domingos e feriados o local fica aberto ao público das 13h às 17h.

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