Mulher negra é expulsa de voo e passageiros acusam companhia aérea de racismo

Uma mulher negra, identificada como Samantha Vitena, foi obrigada a se retirar de um avião da Gol, que partia de Salvador, com destino ao Aeroporto de Congonhas, zona sul de São Paulo, na madrugada deste sábado, 29, após ter dificuldade para guardar sua mochila no compartimento de bagagens dentro da aeronave e reclamar da situação. Na ação registrada em vídeo, que ganhou repercussão nas últimas horas, é possível escutar um dos agentes da PF afirmar que o ato para retirar a mulher do avião era “uma ordem do comandante”.

De acordo com testemunhas, o caso começou quando funcionários tentaram despachar a mochila da coordenadora de educação, alegando que não haveria espaço para a bagagem no compartimento de carga, acima das poltronas, nem abaixo do assento.

Samantha, por outro lado, alegou que o laptop dela estava na mochila e o equipamento poderia ser danificado se a bagagem fosse colocada no compartimento geral de carga do avião. Após ser auxiliada por um senhor, Samantha conseguiu ajustar a mochila em um bagageiro, mas foi surpreendida pela chegada dos policiais que a retiraram da aeronave, mesmo com o protesto dos demais passageiros que consideraram a ação um excesso e classificaram o ato da tripulação e dos agentes como abusivo.

“Se eu despachasse o meu laptop, [o aparelho] iria ficar em pedaços. Os comissários não moveram um dedo para me ajudar […] em 3 minutos, a gente conseguiu dar um jeito e colocar minha mochila. Pelo contrário. Os comissários falaram para mim, que se a gente pousasse em Guarulhos, a culpa seria minha, porque eu não queria despachar a mochila […] faz mais de 1 hora que eu coloquei a mochila aqui e, mesmo assim, o voo não decolou. E a culpa seria minha”, disse Vitena.

No fundo do vídeo, também é possível escutar queixas de outros passageiros que estavam no voo 1575. “Isso é racismo”, disse uma voz feminina. “Eu nunca vi um negócio desse na minha vida”, afirmou outra pessoa que estava no avião.

Em resposta, um funcionário da PF disse no registro que a mulher estava “faltando com verdade”.

Em nota, a GOL informou que a tripulação apresentou alternativas para a passageira, mas ela não aceitou. “Por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo. Lamentamos os transtornos causados aos Clientes, mas reforçamos que, por medidas de Segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções”, afirma a nota. 

“A Companhia ressalta ainda que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor experiência a quem escolhe voar com a GOL e segue apurando cuidadosamente os detalhes do caso”, completa.

O caso movimentou as redes sociais. Confira:

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