Pioneiros da luta contra o apartheid ainda de pé na África do Sul

Enviado por / FontePor AFP, no UOL

Joanesburgo, 2 Jul 2021 (AFP) – Três décadas após a abolição oficial das leis de segregação racial do apartheid, os pioneiros da luta pela libertação continuam de pé na África do Sul.

– Michael Kitso Dingake, 93 anosMilitante do partido histórico, o Congresso Nacional Africano (ANC), chegou à África do Sul no início dos anos 1940 para estudar, procedente do Botsuana.

“Havia segregação por toda parte. Decidi que isso tinha que acabar, que eu tinha que agir”, explica.

Preso por 15 anos na prisão de Robben Island por sabotagem, foi libertado em 1981.

Autor de vários livros sobre sua luta, considera que hoje “as atitudes raciais não mudaram totalmente e ainda há brancos que consideram os negros inferiores”.

– Mac Maharaj, 86 anosFoi ministro de Nelson Mandela e mais tarde porta-voz do ex-presidente Jacob Zuma.

Preso em junho de 1964, pesavam contra ele e cinco outras pessoas 177 acusações de sabotagem. Ele passou 12 anos preso em Robben Island.

Após sua libertação, conseguiu contrabandear a autobiografia de Mandela, “Um Longo Caminho para a Liberdade”. No prólogo, o líder da libertação o descreve como “um amigo e confidente”.

“O projeto de ‘desracialização’ da nossa sociedade está incompleto”, avalia Mac Maharaj, mas o movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos marca “uma nova fase”.

– Desmond Tutu, 89 anosEste ex-arcebispo, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, ajudou a comunidade internacional a perceber as desigualdades raciais do apartheid.

Conhecido por sua franqueza, ele continua a lutar contra a injustiça e a corrupção na África do Sul pós-apartheid desde sua aposentadoria.

– Sophia Williams de-Bruyn, 83 anosÉ a única ativista ainda viva que participou da marcha das mulheres em 9 de agosto de 1956 até a sede do governo branco em Pretória para protestar contra as “leis de passe”.

Até 1986, a população negra precisava se deslocar com um “passaporte interno”, que especificava para onde poderia ir.

Atualmente, ela milita pela igualdade de gênero e ainda é ativa na Liga Feminina do ANC.

– Albie Sachs, 86 anosEle defendeu com frequência pessoas perseguidas durante o regime do apartheid, o que o levou à prisão e tortura.

Depois de um exílio na Inglaterra a partir de 1966, ele se estabeleceu em Moçambique, onde ajudou a implantar um novo sistema jurídico.

Em 1988, ele perdeu um braço e um olho em um ataque com carro-bomba.

Após a libertação de Mandela em 1990, ele voltou para a África do Sul, onde foi nomeado para o Tribunal Constitucional. Contribuiu para a redação do texto autorizando o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

– Ebrahim Ismail Ebrahim, 83 anosMembro do braço armado do ANC, foi preso em 1963 e 1989. Passou mais de 15 anos na prisão, onde foi torturado.

Hoje, sua principal preocupação é a economia do país em recessão. Diz contar com o atual presidente Cyril Ramaphosa, que “continua a tomar medidas para erradicar a má gestão e a corrupção”.

Próximo do ex-presidente Zuma, ele explica que compartilhou uma cela com ele em Robben Island. E garante que lamenta seu “triste” retorno à prisão, acusado de corrupção e condenado a 15 meses de prisão.

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