A noite de sexta-feira (8) foi de festa na casa de Maicon Valentim. Ele passou 69 dias atrás das grades por engano, depois de ser reconhecido por uma foto em uma rede social. Foram mais de dois meses tentando provar a inocência.
Ele chegou na noite de sexta, fazendo questão de mostrar o alvará de soltura. Os amigos levaram fogos para comemorar.
“Cheguei aqui em casa e estava morrendo de saudades. Lá dentro, aprendemos muitas coisas – uma delas, é que a coisa mais importante é família. Perguntei se estavam todos bem, se acreditavam em mim. Isso que é importante: todos acreditaram em mim. Agora, é provar a minha inocência. Foram muitos dias esperando para estar aqui na minha casa”.
Maicon acabou detido após ser acusado de um roubo que ocorreu há dois anos. De acordo com o processo, o indiciamento, a denúncia e o mandado de prisão foram sustentados apenas por um print do perfil de Maicon no Facebook.
O jovem, que não tinha nenhuma passagem pela polícia, não foi chamado para prestar depoimento – nenhuma intimação chegou às mãos dele.
“Eu não tinha noção do porquê estava sendo preso. Meu irmão me acordo dizendo que a polícia estava do lado de fora. Como moramos em uma área de risco, achei normal, poderia ser alguma operação”, relembrou.
O julgamento de Maicon aconteceu na quinta-feira (7) e o reconhecimento pessoal, também. A vítima não reconheceu o rapaz e ele foi absolvido.
A defesa de Maicon disse que a juíza ainda perguntou à vítima sobre o print do facebook. Ela respondeu que nunca apresentou o perfil de Maicon na delegacia.
O alvará de soltura só chegou na tarde de sexta e ele deixou a cadeia.
“Eu nem acreditei que estava indo embora. Fiquei surpreso até quando senti o vento batendo no meu rosto. Foi a melhor sensação do mundo. E ainda fui muito bem recebido. Os amigos e a família vieram aqui e soltaram fogos. É bom ver que existem pessoas que gostam e acreditam na gente”.
Mesmo com o filho solto, a mãe de Maicon, Cíntia Valentim, ainda se pergunta até quando essas injustiças vão acontecer.
“O que eu passei, não desejo para mãe nenhuma. Onde isso vai parar? Não é porque moramos em comunidade que somos ladrões. isso não pode mais acontecer. Nós temos que ser respeitados”.
“Não tem como explicar como foi a emoção de ver meu neto de volta. Fiquei com medo de quebrar meu neto, de tanto que eu o agarrava”, descreveu a avó de Maicon, Sônia Borges.
“Quero apenas o meu direito de ir e vir, com minha ficha limpa. Sem ter o medo de, lá na frente, alguém me parar por causa dessa passagem. Meu maior medo é esse. Saí de lá, vi um carro da polícia e fiquei com medo”, finalizou Maicon.
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