Reflexões do 25 de julho ou por uma vida afetiva digna

Para a maioria, o 25 de julho é apenas mais uma data no calendário. Para nós, que fazemos o debate de gênero e raça, é momento de analisar as posturas sociais e como elas interferem nas vidas daquelas e daqueles que dizemos defender em nossos discursos. As pautas são diversas, por isso optei em focar meu debate sobre algo que faz parte das conversas das mulheres negras. Vida amorosa, ou a falta dela. Por isso, resolvi fazer uma série de questionamentos e espero as respostas.

por Maíra Azevedo via Guest Post para o Portal Geledés

Quem faz manifestação pela morte afetiva e cotidiana das mulheres negras? Quem se importa quando as mulheres passam sozinhas pelas ruas? Quem se incomoda com o fato das mulheres negras serem sempre mal tratadas por seus parceiros, seja fisicamente ou psicologicamente? Quem tenta buscar solução pela vida miserável que as mulheres negras levam, pois ou elas estão chorando pelos homens negros que morreram, ou pelos que ajudam a tirar suas vidas? Porque a morte das mulheres negras é real, quando não morrem fisicamente, estão mortas afetivamente. A solidão mata, entristece, deprime.

Hoje, peço a você um minuto de reflexão. Qual mulher negra que você conhece que vive uma relação bacana, tranquila, com cumplicidade? Se lembrar de cinco, sem precisa puxar pela memória…então, eu volto e digo que estou errada. As mulheres negras estão sozinhas, até mesmo quando tem alguém ao lado. Porque a maioria dos homens, quando estão ao lado de uma mulher negra acham que já fizeram o bastante por ela. Para muitos, o fato de terem assumido a relação com uma de nós é um plus, um bônus.

Devemos agradecer, afinal estamos fora das estatísticas da solidão.

É preciso fazer um alerta, uma convocação. Temos obrigação moral de sermos mais companheiras uma das outras. Se somos mesmos comprometidas com o debate de empoderamento feminino, vamos aprender a não brigar por homens, a não permitir que eles nos dissolvam. Pois, quando eles partem, ficamos em frangalhos e eles fazem isso em série.

Não dá mais para aceitar as migalhas que muitos desses homens pensam em nos oferecer. Levar para um quarto de hotel e ter uma noite de prazer, ou se aproveitar do nosso status, para ter um duplo prazer. Muitos deles, querem gozar da nossa influência e acha que nos dar o gozo é a melhor forma de retribuir tudo que já fizemos por eles.

E a nós mulheres negras, cabe praticar mais a sororidade. Devemos ser mais cumplices, não julgar a outra. Estender a mão e no momento de dor, nada de lembrar “EU BEM QUE TE AVISEI”. Esse sofrimento em busca de um homem legal, bacana, companheiro, que te respeite, parece ser incessante,e isso é cobrado de todos os lados.

A hora de chorar pelos cantos já passou e não deveria nem ter chagado. Mas é preciso despertar e ser mais cofiante, rejeitar essas miudezas que eles nos oferecem por aí. Porque pra gente é sempre mais difícil. Queremos viver, bem viver e não sobreviver. Vamos protestar contra a miserabilidade afetiva que somos submetidas e que ás vezes é praticada por aqueles que defendemos. Basta! Por uma vida afetiva verdadeira e digna.

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