“Vou doar uma rola branca” e “Por mim, morrem de fome”: ódio e racismo contra campanha da Uneafro

Campanha de financiamento coletivo para trabalho educacional do movimento Uneafro-Brasil, fez transbordar ódio e racismo em redes sociais, mas também provoca solidariedade e apoio. Organização promete denunciar agressores.

 

Por Douglas Belchior, no Negro Belchior

 

Reprodução

Não faltaram manifestações de intolerância e ódio na reação de dezenas de internautas à campanha de financiamento coletivo  da Uneafro-Brasil, organização que se dedica à enfrentar o racismo através da educação popular nas periferias de São Paulo e do Brasil. Há poucos dias do fim da campanha, que segue até 28 de junho, uma coleção de pérolas do cancioneiro ultraconservador, racista, xenófobo, machista e sexista, próprio destes tempos de intolerância política, transbordaram nas redes sociais. “Entre o silêncio dos bons e o escândalo dos maus, esperamos que o exemplo de Luther King prevaleça”, diz Rosangela Martins, coordenadora do movimento.

 

“Mas a o solidariedade vai superar o ódio”

Antes embrulhar o estômago dos leitores com a necessária exposição das manifestações de ódio e intolerância e seus autores, é preciso dizer: a solidariedade de centenas de apoiadores está superando a contra-campanha de grupos fascistas que, de maneira organizada, atacam a campanha da Uneafro. “Apesar das dificuldades, ultrapassamos os 70% do total a ser arrecadado”, diz Carol Fonseca, que foi aluna da Uneafro, chegou à universidade, se formou em Serviço Social e hoje é coordenadora da organização. A campanha visa arrecadar 59 mil reais para manter o trabalho do escritório central do movimento até o final do ano de 2017, além de propiciar a produção de um material didático para formação dos estudantes dos cursinhos comunitários. Faltam poucos dias para o fim da campanha e as colaborações podem ser feitas por este link: catarse/uneafrobrasil

O ódio racista de sempre, mais explícito que nunca

As amigas Preta Rara e Renata Prado, artistas negras e ativistas nacionalmente reconhecidas, o professor de comunicação da USP, Dennis Oliveira, o poeta Sergio Vaz, o ator Wagner Moura, o líder do MTST Guilherme Boulos e as lideranças políticas de refugiados africanos e sírios no Brasil, Jean Katumba e Abdulbaset Jarour, gravaram vídeos de apoio à campanha. Haters, bolsominions e fascistas de toda estirpe não economizaram ofensas e ameaças. Algumas, absurdas como de costume.

Apoio que custa caro. Mas vale a pena!

Wagner Moura, por colocar sua fama a serviço de causas sociais e humanitárias, sofre ataques de todo tipo, como esses abaixo. Talvez por isso prefira ficar fora do mundo das redes sociais, espaço onde não mantém contas e perfis. Tem motivos pra isso.

O internauta Henrique Sergio, que em seu perfil no facebook exalta santos e referências religiosas, não se constrangeu em oferecer sua genitália ariana ao reagir ao vídeo de Moura. Que pecado, hein!

Intolerância e ameaças

Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Sem Teto e da Frente Povo Sem Medo é outro que provoca a histeria deste tipo de público. “Pode sim, conseguir uma surra se alguém te achar na rua, seu FDP”, ameaça Clésio Ribas, um clássico cidadão de bem. “Vou colaborar com um canhão voltado para vagabundos”, diz Silvio Soares de Barros, entre outras ofensas gratuitas e próprias da superfície de uma valeta em dia de chuva:

Racismo e Xenofobia

A xenofobia do miscigenado povo brasileiro talvez seja a maior das contradições do conservadorismo nacional. Coerência é luxo! Os vídeos do diretor da Ong África do Coração, o congolês Jean Katumba e de seu colega Abdulbaset Jarour, refugiado Sírio de Alepo fez cair a máscara da hipocrisia e transbordar ódio e ignorância de vários internautas. Roger Mackay mitou, lacrou e tudo o mais que o aproxima de um ser desprezível:

 

” Por que só vem imigrantes fudidos pra cá, só gente miserável, estamos de braços abertos pra receber imigrantes, mais não esses terroristas do oriente médio, queremos os imigrantes japoneses que tanto contribuíram para nossa agricultura, queremos os imigrantes alemães, italianos que tem coragem de trabalhar, duvido se esses tais imigrantes que vcs trazer vão pegar no pesado, vão encostar em algum canto e receber algum tipo de bolsa imigração pra nós trouxas de sempre tá ajudando a sustentar.

#VAOEMBORA #NAOGOSTAMOSDEVCS “

 

O internauta vomita valores e pressupostos escravocratas que teimam em permear nossa sociabilidade. Não há surpresa, apenas a certeza de que esse tipo de pensamento, fomentado pelos grandes meios de comunicação e politicamente utilizado pelos grupos que conformam o apoio ao atual governo, endossa toda a violência e desumanização que vitima historicamente a população negra, indígena e periférica. Realidade a qual o projeto proposto pela Uneafro se atreve enfrentar. Aqui o link do perfil do nobre Roger Mackay, caso interesse a alguém.

Mackay não está sozinho. Em dezenas de outros posts, conteúdos similares, sejam formulando novas escrotices, sejam apoiando ideias fascistas, como fizeram Marcilio Pereira, “Tá horrível pra sustentar vagabundo nascido aqui, agora vem os de fora ainda”,e Paulo Sergio Aparecido Moreira, “Esse povo são considerados pragas em seus países(…) Daqui uns dias eles vai (sic) tomar o Brasil”

Nós, que construímos o dia a dia do movimento Uneafro, refletimos um bom tempo antes de decidir fazer essa postagem. A fizemos justamente para que a permanência e a repetição destes tipos de manifestações não se naturalizem, pelo contrário, que continuem a nos provocar enjoo, revolta e solidariedade entre os nossos.


 

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