Denúncia de racismo cria tensão na Geografia

por Bárbara D’Osualdo

FFLCH
Uma polêmica se levantou na terça-feira passada (18) no Departamento de Geografia (FFLCH) quando alunos denunciaram o professor André Martin, chefe do Departamento, por suposto comentário racista. O caso ocorreu durante a aula de Regionalização do Espaço Mundial quando o professor falava sobre a presença das tropas brasileiras no Haiti. Segundo os alunos Martin teria dito: “Se o exército brasileiro não estiver lá [no Haiti], quem vai por ordem na macacada?”. Questionado, o docente teria se justificado afirmando que era o que o diria imperialismo norte-americano. Com a insatisfação dos alunos diante da justificativa, ele disse que o termo era utilizado “na sua época” para dizer “povão”.

O caso dividiu a opinião dos estudantes do curso. Alunos não identificados picharam a porta da sala do professor com palavras como “racista” e “otário”.

Martin emitiu uma carta aberta, em que se disse “consternado” e “na obrigação de esclarecer a todos o que realmente aconteceu” e negou a frase que está circulando nas redes sociais. Na carta ele expôs seu ponto de vista sobre a polêmica e finalizou com um pedido de desculpas: “Não tenho nenhum problema em pedir desculpas pessoalmente ao aluno que se sentiu ofendido, pois jamais tive qualquer intenção de fazê-lo. Espero honestamente que este episódio infeliz sirva ao menos como pretexto para que coloquemos o debate acerca das sobrevivências do preconceito racial no Brasil em um novo patamar”.

Os alunos presentes na aula emitiram também uma nota de esclarecimento. Nela, eles afirmam que o termo empregado pelo professor teve conotação racista. No entanto, apontam que “o enfoque e objetivo da questão não é estigmatizar um Professor ou Chefe de Departamento, e sim colocar em debate o racismo materializado estruturalmente e institucionalmente em nossa sociedade e Universidade”. Por fim, eles afirmam a necessidade de uma retratação pública e não individual, como afirmou Martin. “Não se trata de uma ofensa particular de um aluno que se indignou e se retirou da sala, pois o racismo não é algo personificado”.

Fonte: Jornal do Campus

+ sobre o tema

Depois de perder família, jovem da periferia vence e vira professora universitária

Após ter irmã morta e irmão desaparecido após abordagem...

Indian Wells: Serena encerra boicote de 14 anos por racismo

Demorou 14 anos para Serena Williams decidir pelo retorno...

‘Small Axe’ traz resiliência a histórias de racismo que poderiam ser apenas tristes

Steve McQueen, o diretor britânico premiado por “12 Anos...

II Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro

A campanha reaja ou será morta/morto conclama, convoca e...

para lembrar

Ponte Preta acena na contramão do futebol brasileiro com um inédito presidente negro

Conhecedor do histórico pontepretano contra o racismo, o mandatário...

Mesmo com obrigatoriedade, 27% dos professores não declaram raça em censo da educação

Mesmo com uma resolução do Conselho Nacional de Educação...

Adilson Moreira: “O humor racista é um tipo de discurso de ódio”

Professor Doutor pela Universidade de Harvard em Direito Antidiscriminatório...

Quer namorar comigo?

Todos os dias me deparo com situações que evidenciam...
spot_imgspot_img

A ‘inteligência artificial’ e o racismo

Usar o que se convencionou chamar de "inteligência artificial" (pois não é inteligente) para realizar tarefas diárias é cada vez mais comum. Existem ferramentas que, em...

Funcionária de academia será indenizada por racismo: “cabelo de defunto”

Uma funcionária de uma academia em Juiz de Fora (MG), na Zona da Mata, será indenizada em R$ 15 mil por sofrer racismo. De...

Efeito Madonna no Rio

Uma mulher. Uma mulher de 65 anos. Uma artista de fama planetária que, aos 65 anos, 40 de carreira, é capaz de mobilizar para...
-+=