Câmara: Comissão de Direitos Humanos aprova prorrogação da Lei de Cotas

Projeto define que legislação deve durar até 2032. Especialistas destacam urgência no tema. Eles consideram a reserva de vagas essencial para ampliar o acesso ao ensino, mas alertam as profundas desigualdades sociais exigem mais políticas públicas

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (8/12), o projeto que prorroga a Lei de Cotas nas universidades federais. A revisão da legislação visa estender o prazo para 2032. As cotas reservam vagas nas instituições do governo para pessoas de baixa renda, pretas, pardas e indígenas.

O presidente do colegiado, deputado federal Carlos Veras (PT-PE), comemorou a aprovação. “Foi uma grande vitória para a continuidade das políticas de cotas, essenciais para reparação histórica à população negra e de enfrentamento ao preconceito e à discriminação”, disse.

Para virar lei, o projeto, de autoria do deputado Birá do Pindaré (PSB-MA), e de relatoria da deputada Vivi Reis (Psol-PA), ainda precisa ser aprovado pelas comissões de Educação e de Constituição e Justiça (CCJ).

Racismo estrutural

Na avaliação do advogado constitucionalista e cientista político Nauê Bernardo de Azevedo, a proposta é fundamental para combater o racismo e igualar as oportunidades. “Mais do que a importância das cotas em si, é essencial que o Brasil reconheça e enfrente o racismo olhando para o fenômeno”, afirma. “As cotas sozinhas não resolvem o problema, mas contribuem para tirar a situação de “debaixo do tapete”. A cura para o racismo estrutural só virá após o diagnóstico e o devido enfrentamento, e as cotas são apenas parte do remédio”, defende Azevedo.

O advogado Beethoven Andrade, presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB-DF), destaca que a política de cotas no país é um tema ainda sensível. “Pois, em que pesem os avanços palpáveis, que conseguimos identificar com o acesso de pessoas negras, pardas, indígenas, dentre outros grupos racialmente identificados e tidos como minorias, às universidades e ao mercado de trabalho, o Brasil não superou as diferenças impostas para as pessoas integrantes dos grupos minoritários”, aponta.

“A prorrogação, sobretudo nesse momento, em que o ensino médio trará um novo cenário para o ingresso de estudantes pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência, que são a maioria no ensino público, é a medida mais urgente que se impõe”, avalia Andrade.

Palavra de especialista

“A aprovação — pela Comissão de Direitos Humanos — para que a avaliação das Leis de Cotas seja realizada a cada 20 anos é um avanço de grande relevância. Nós, do movimento negro, já tínhamos um acúmulo de que essa política na verdade deveria ser de 30 anos.

O professor Hélio Santo pontua que para cada 10 anos de Brasil, sete ocorreram sobre o signo da escravidão. Nesse sentido, uma política como a de cotas em 10 anos não dá conta de reparar uma geração. Além disso, é importante colocar que para além da lei de contas, precisamos pensar também na política de permanência. Não é sobre apenas garantir o ingresso, mas possibilitar que esse estudante negro tenha condições de seguir com sua vida acadêmica.

Compartilho, por exemplo, a minha experiência, enquanto aluna da Universidade Federal Fluminense (UFF), tinha que fazer um malabarismo entre passagem e alimentação, considerando que eu saía da Praça Seca (Zona Oeste) e me deslocava até Niterói, em um curso que era integral.”

Tainá de Paula, Arquiteta, Urbanista e Ativista das Lutas Urbanas. Vereadora eleita pelo PT-RJ

+ sobre o tema

Barack Obama visitará o Cristo Redentor

Barack Obama vai aproveitar sua passagem pelo Brasil, onde...

A esquerda que fica em silêncio não representa ninguém

Vamos lembrar que a esquerda brasileira é bem plural...

O colonialismo insidioso, por Boaventura Sousa Santos

O termo alemão Zeitgeist é hoje usado em diferentes...

Exposição Povos Indígenas no Brasil

Exposição Povos Indígenas no Brasil, sobre 34 etnias indígenas,...

para lembrar

Temas raciais ganham fôlego nas universidades brasileiras

Pesquisadores apontam que volume de temas raciais dentro da...

Unicamp começa a adotar sistema de reserva de cotas

Cursos de pós-graduação da área do Instituto de Filosofia...

Suprema Corte mantém cota racial para universidades dos EUA

Em um placar acirrado (quatro votos a três), a...

Fux volta atrás e admite entidades antirracistas em julgamento de ação contra racismo estrutural

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux recuou e admitiu que organizações que se dedicam ao enfrentamento do racismo participem como amicus curiae (amigo da corte) da ADPF...

O calor tem cor e tem classe

Está calor? Sim. Para todo mundo de forma igual? Não. Quantos aparelhos de ar-condicionado ou umidificador de ar você tem em casa? Em SP, apenas 210...

Somente 7 estados e o DF têm cotas para negros em concursos públicos. Veja quais

Adotadas no Executivo federal, as cotas raciais nos concursos para entrada no serviço público avançam em ritmo bem lento nos outros níveis de governo,...
-+=