Por Mariana Santos de Assis para as Blogueiras Negras
O inseto do Demétrio não me surpreende, só me compadeço da incoerência e do despreparo desse ser. Na verdade o que mais chamou minha atenção nesse vídeo foi ver, nitidamente, a postura do opressor, não importa o quão progressista ele seja, quando o racismo é posto no seu quintal ele sabe bem se defender nos atacando.
Perceberam a reação geral quando Paulo Lins mostrou as consequências do racismo na sociedade materializadas na mesa de brancos falando sobre negros? Um silêncio desconcertante e atormentador tomou conta dos intelectuais pseudo-progressistas que se viram, por um momento, sendo coniventes com o maior crime da história. Por um breve momento, seus diplomas não deram as respostas necessárias, em uma fração de segundos suas babás, motoristas, faxineirxs, pedintes, crianças viciadas e esfarrapadas, surgiram e deixaram a coisa bem feia pro lado deles. Em um momento breve, aquele grupo quase deu um salto de consciência e percebeu a miséria que o racismo legou aos negros desse país.
Infelizmente não durou muito, foi mesmo um momento muito breve, breve demais para mudanças mais efetivas. No instante em que Paulo tenta avançar mais e dar o golpe de misericórdia, ao tentar mostrar que o verdadeiro lugar social do negro também estava materializado ali, com os negros nos bastidores, carregando coisas pesadas, baldes e vassouras. Nesse momento, o racismo passa a ser subjetivo, pessoal e intransferível, ninguém quer se sentir responsável pelo crime. Dizer que o radicalismo estúpido, ultrapassado e mal fundamentado de Jair Bolsonaro, Marcos Feliciano e Demétrio Magnoli é racismo, tudo bem, mas falar isso da TV Cultura, do Roda Viva, da Marília Gabriela, sempre tão condescendentes e TOLERANTES com a presença negra em espaços brancos… Aí já é vandalismo.
Segundo Magnoli, Paulo Lins garantiu seu lugar naquela mesa por sua trajetória intelectual, certas ideias sobre o Brasil e por aí a fora… Gabi só conseguiu justificar a presença negra ali por sua experiência na Cidade de Deus. Trata-se do autor de um dos livros mais importantes da literatura brasileira contemporânea, desconhecido por muitas pessoas que, no máximo, viram o filme homônimo e tão aclamado quanto o livro, “Cidade de Deus”. Acho que seu currículo garantiria, ou deveria garantir, sua presença ali por mais motivos que, simplesmente, sua origem social ou ideias sobre o Brasil. Mas o que eles esperavam era mais uma historinha de sucesso, mais um negrinho que venceu as dificuldade e até conseguiu ser aceito ou, o que é mais provável, precisavam de um preto pra legitimar, minimamente, o momento dos brancos falsamente interessados em compreender as demandas dos negros do país, o cotista da parada. Novamente subestimaram o avanço intelectual e político do negro ali, conseguiram mais do que esperavam, Paulo Lins soube usar muito bem o pouco espaço que lhes concederam para mostrar o racismo deles e nossa consciência política de nosso lugar social. Talvez alguns até levem pro travesseiro o breve momento de reflexão sobre a mesa branca de tema negro.
Porém, a maioria seguirá acreditando que sua generosidade e tolerância com os diferentes resolve todos os problemas, desde que esses diferentes não queiram mais do que merecem, afinal dizer que existe racismo, ok, mas quem define o que é ou não racismo somos nós brancos, classe média, héteros, como bem disse a linda da Luíza Bairros.
Mariana Santos de Assis é formada em letras e mestranda em linguística aplicada na Unicamp, militante no Núcleo de Consciência Negra e na Frente Pró-Cotas da Unicamp. Escreve no blog conversaafiadaca.blogspot.com.br
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