Núcleo de Consciência Negra na USP: Afastamento, não basta

Nota de Repúdio do Núcleo de Consciência Negra na USP sobre a abordagem policial racista ocorrida no dia 9 de Janeiro de 2011

A Polícia Militar está, pouco a pouco, mostrando à sociedade a razão pela qual ela foi colocada dentro do campus Butantã da Universidade de São Paulo pelo governo tucano. O suposto princípio de segurança do qual a reitoria se utiliza para combater a violência é na verdade uma fonte de violência e nós devemos nos perguntar quem, de fato, são os atingidos por ela.

O lamentável episódio de extrema violência policial contra Nicolas Menezes Barreto, aluno negro do curso de Ciências da Natureza, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e contra Anita*, aluna negra do Curso de Matemática do Instituto de Matemática e Estatística (IME) e grávida de 5 meses, durante a invasão da polícia à um espaço estudantil não deixa dúvidas: dentro da USP assim como fora dela, a Polícia Militar aborda as pessoas de forma truculenta e abusa de poder contra aqueles considerados fora do estereótipo “burguês-estudante da USP”, ou seja, as pessoas negras e pobres.

Como entidade que discute a questão do racismo e acesso à Universidade, o Núcleo de Consciência Negra na USP (NCN) repudia veementemente as sucessivas e crescentes ações repressoras, fascistas e racistas da Polícia Militar e da Guarda Universitária dentro da Universidade, em especial a ocorrida no último dia 9, mas não somente ela, pois existem outros casos de agressão, coação e perseguição de cunho político e sócio-racial acontecendo cotidianamente na USP, e principalmente nas periferias.

Fica nítido no vídeo que entre os cerca de 15 alunos que protegiam o espaço de vivência do Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) da USP que Nicolas ele era a pessoa que possuía a pela mais escura e por conta disso ele foi “o escolhido” para ser abordado e agredido pelo policial. Por ser negro, sim, Nicolas foi questionado sobre a sua condição de estudante da USP e antes mesmo de responder ao questionamento racista, foi abordado com tapas e teve uma arma apontada para sua cabeça.

É vergonhoso e não podemos aceitar a violência e o racismo policial em nenhuma parte do mundo e a nossa luta começa na USP, mas ultrapassa seus muros. Não podemos permitir que quando as pessoas negras e pobres vencem o filtro social do vestibular, elas sejam literalmente enquadrados por não estar de acordo com o “perfil USP”. Ironicamente, a USP possui apenas 10% de estudantes negros (FUVEST 2010), conta-se nos dedos os professores negros a ministrar aulas aqui e a única entidade que tem como linha política o questionamento disso, o NCN, está sendo ameaçado de fechamento e demolição do seus barracão pela Reitoria.

O NCN está, juntamente com o Instituto Luiz Gama, intercedendo para o devido auxílio jurídico aos estudantes agredidos, com a perspectiva de caracterizar as agressões como crimes de racismo e cobramos da USP e do Estado de São Paulo a exoneração imediata do Guarda Universitário e dos 2 PMs agressores. Afastamento não basta!

 

Matéria relacionada

PM me escolheu porque eu era o único negro

 

Luka Franca – Políticas de higienização, criminalização dos movimentos sociais, extermínio da juventude negra

Sakamoto – PM na USP, Cracolândia e as saudades da ditadura

 

Fonte: Viomundo

+ sobre o tema

Em memória dos Pretos Novos

Os mortos falam. Não estou me referindo a nenhum...

Projeto de Lei de Cotas em concursos federais é aprovado na Câmara

  Em regime de urgência, o Projeto de Lei que...

20 de Novembro e a defesa de nossos melhores sonhos de liberdade

Em algum momento entre 1962 e 1976, o poeta...

Pesquisa reúne experiência de negros com racismo na Alemanha

O pai de família Adegbayi B. caminhava com sua filha de...

para lembrar

Vídeo coloca agressor frente a frente com vítima de racismo

Em julho do ano passado, a jornalista Maria Júlia...

O que é que você tem com isso? por Eliane Cavalleiro

O que o jogador do Milan e seus filhos...

O Negro Drama e Revoltas nas Mentalidades…

Negro nem quando morre aos milhões gera comoção social....
spot_imgspot_img

Em memória dos Pretos Novos

Os mortos falam. Não estou me referindo a nenhum episódio da série de investigação criminal CSI (Crime Scene Investigation) ou à existência de vida após a...

Desafios mortais na internet são urgência que o Congresso ignora

Uma menina morreu. Podia ser sua filha, neta, sobrinha, afilhada. Sarah Raíssa Pereira de Castro tinha 8 aninhos e a vida inteira pela frente....

Construção de um país mais justo exige reforma tributária progressiva

Tem sido crescente a minha preocupação com a concentração de riqueza e o combate às desigualdades no Brasil. Já me posicionei publicamente a favor da taxação progressiva dos chamados...
-+=