Olodum: princesa Isabel não é heroína da abolição

Fundador do grupo Olodum, João Jorge Rodrigues, disse que a escravidão era prática em declínio à época da abolição: “Não queremos que essa atitude [a assinatura da Lei Áurea] seja vista com aura de santidade. Os verdadeiros heróis negros são Zumbi dos Palmares, Lucas Dantas, Manoel Faustino e todos os personagens negros importantes da época do império”

Marcelo Brandão – Repórter da Agência Brasil – O fundador do grupo Olodum, João Jorge Rodrigues, foi o entrevistado dessa terça-feira (13) no programa Espaço Público, da TV Brasil. Em uma de suas respostas, ele rejeitou a ideia de que a princesa Isabel seja heroína da história do Brasil. Segundo ele, a escravidão era prática em declínio à época da abolição. “Não queremos que essa atitude [a assinatura da Lei Áurea] seja vista com aura de santidade. Os verdadeiros heróis negros são Zumbi dos Palmares, Lucas Dantas, Manoel Faustino e todos os personagens negros importantes da época do império”, declarou.

Ao lembrar dos 126 anos da abolição da escravatura, completados ontem (13), Rodrigues reforçou a ideia defendida por movimentos sociais de que a data não deve ser comemorada: “Não é possível manter alguém acorrentado por 20 anos e, de repente, soltá-lo e mandá-lo correr”. Para ele, faltaram dispositivos na Lei Áurea que garantissem mais oportunidades para os negros recém-libertos.

O fundador do Olodum lamentou a demora do país em dar a devida importância à educação pública de qualidade na promoção da igualdade entre todos os brasileiros. “Saímos da escravidão, entramos na república, passamos por Canudos, quando o poder opressor se levantou contra uma minoria. Muitos anos depois, só agora, a educação começou a ser mais discutida como mola do desenvolvimento. Temos de reforçar o ensino público básico de qualidade”, disse Rodrigues.

Defensor da política de cotas raciais tanto nas universidades como no serviço público, ele acredita que mais negros deveriam entrar no ensino superior por esse sistema. Ele, no entanto, defende que as cotas sejam apenas temporárias e pede políticas para garantir a ascensão dos negros à pós-graduação.

“Precisamos garantir a permanência dessas pessoas, ajudá-las a ir a pós-graduação, a degraus maiores dentro do ensino. Temos que aperfeiçoar para que, lá na frente, [a política de cotas] deixe de existir”. Ontem (13), a Mesa Diretora do Senado instituiu cotas de 20% de negros nos próximos concursos da Casa.

Rodrigues também relembrou a trajetória do Olodum, grupo que fundou e que, nos anos 90, ganhou fama no mercado fonográfico com repercussão nacional e internacional. Ele lembrou que o grupo nasceu para cantar a cultura africana. Segundo ele, o Olodum ajudou a formar grupos em torno de comunidades, defendendo seus interesses e combatendo a discriminação. “O Olodum fala contra o racismo, mas se multiplicou em outros grupos do Brasil, que adotaram a ideia de que a comunidade é a força. Assim, esses grupos vão além da música e formam associações mais sólidas”, destacou.

Fonte: Brasil247

+ sobre o tema

Filme de Wagner Moura sobre Marighella abre seleção de atores

Filme de Wagner Moura sobre Marighella abre seleção de...

Adiamento da ação que questiona terras quilombolas visa desmobilizar luta, diz líder

O STF suspendeu, nesta quarta, o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade...

Novembro Negro tem programação unificada na UFMG

Espetáculos culturais, rodas de conversa sobre percurso de alunos...

para lembrar

Ministra da Igualdade Racial vem a Alagoas assinar Termo de Compromisso

  A ministra da Secretaria de Políticas de...

Luiza Bairros: População negra já não aceita passivamente o racismo

O aumento das manifestações de racismo registradas em situações...

‘Racismo é perverso’, diz a primeira doutora quilombola do Brasil

Edimara Gonçalves Soares viveu em um quilombo no RS...
spot_imgspot_img

João Cândido e o silêncio da escola

João Cândido, o Almirante Negro, é um herói brasileiro. Nasceu no dia 24 de junho de 1880, Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul....

Levantamento mostra que menos de 10% dos monumentos no Rio retratam pessoas negras

A escravidão foi abolida há 135 anos, mas seus efeitos ainda podem ser notados em um simples passeio pela cidade. Ajudam a explicar, por...

Olodum comemora 44 anos com show no Pelourinho

Maior grupo percussista da Bahia, o Olodum comemora nesta terça-feira (25), 44 anos, e celebrará a data com um show gratuito no Pelourinho, às 19h. A...
-+=