Emanoel Araújo foi homenageado no evento Festival I.A.V. Contemporânea, em Paraty

Às 15h do dia 30/07/2011 no espaço Domus Artis (Igreja do Rosário) aconteceu o “Encontro com Emanoel Araújo – ‘Uma Vida com Arte'”.

Emanoel Araújo foi o artista homenageado no evento F.I.A.V. – Contemporânea, em Paraty, RJ, no qual participei como espectador e ouvinte de algumas palestras.

Segundo o encarte da programação do Festival de Arte Contemporânea “Emanoel Araújo é escultor, desenhista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo.

Diretor do Museu de Arte da Bahia (1981/83), foi professor de artes gráficas e escultura no The City College (City University of New York), diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1992/2002), membro convidado da comissão dos museus (1995) e do Conselho Federal de Política Cultural (1996), instituídos pelo Ministério da Cultura, curador e diretor do Museu Afro-Brasil, Secretário Municipal de Cultura de São Paulo (2005).

Ganhador dos prêmios Odorico Tavares, prêmio de melhor gravador (e escultor) do ano na Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA.

Nascido em 15 de novembro de 1940, em Santo Amaro da Purificação, tradicional cidade do Recôncavo Baiano, Emanoel é descendente de três gerações de ourives. Foi aprendiz de marceneiro e trabalhador e, aos 13 anos, passou a trabalhar na Imprensa Oficial da sua cidade, em linotipia e composição gráfica. Esta experiência do fazer foi fundamental na sua formação, tanto no domínio técnico, quanto no da expressão.

Antecedendo o evento, na parede acima, anterior ao altar principal (todos os ícones religiosos foram retirados – poeticamente, como se todos os “santos” tivessem saído de seus pedestais para um passeio naquela cidade que transcende cultura, história e cosmopolismo) é projetado elementos visuais já consagrados da arte. É marcante o “Nascimento de Vênus” de Sandro Botticelli encontrando-se com “A Criação do Homem” de Michelangelo. Quando a projeção das duas obras renascentistas se interseccionam o Homem, a Mulher e Deus em um mesmo plano formando uma triologia – a figura de Vênus transmuta-se em Maria, a virgem morena, com traços bem brasileiros do nosso Manuel da Costa Ataíde. Neste ponto a imagem projetada é craquelada como se o tempo tivesse exercido o seu poder de envelhecimento sobre estas obras de estilos passados – o momento agora é outro: Festival Internacional das Artes Visuais Contemporânea, Paraty – 2011.

Enquanto aguardamos, ouve-se suave música de fundo preenchendo a espera… E também conversas… E pedantismos! O senhor, ao meu lado, junto com senhoras começam a disputar conhecimentos. Ele diz, quando vê a projeção da Virgem de Ataíde:

– Olha, a Capela Sistina ou será que não? Se você não tivesse falado eu não reconheceria… Dirigindo-se a uma das protagonistas… E aí os diálogos mais mirabolantes e considerações absurdas brotam entre o grupo (cada um querendo mostrar mais enciclopedismo do que o outro).

Minutos depois…

Olívio Tavares (crítico de arte presente no evento) inicia a apresentação de Emanoel Araújo. Além disto, chama a atenção desmitificando que o artista não se retrata, não se revela através de sua obra. “A vida é uma e a obra é outra. Duas dimensões que se encontram”. Salienta. “Tudo é a imaginação do artista no fenômeno da criação. A arte é uma forma de sobrevivência para o artista se liberar como válvula de escape. O artista está sujeito ao atavismo, ao inconsciente coletivo e a formações que ele colhe na sua vida”.

Sobre Emanoel Araújo é dito que ele faz a “simbiose” da arte brasileira e africana.

Neste ponto o próprio artista homenageado, Emanoel Araújo, começa a explanação falando sobre suas primeiras experiências artísticas na década de 1960.

O artista nos conta que de Santo Amaro chegou a Salvador trazendo sua experiência de ourives que tivera com seu pai, que negava em ensinar o ofício aos filhos.

Por isto, Emanoel foi aprender marcenaria e artes gráficas. Ele diz que a vida sempre lhe favoreceu pondo em seu caminho pessoas generosas. Isto lhe marcou despertando-lhe consciência para contribuir com aquilo que receber. Sentindo-se uma pessoa de sorte, deseja ser generoso com seus colegas, amigos e, sobretudo, com o público.

Tendo sido diretor do Museu de São Paulo, sente que muito contribuiu para a instituição.

Foi perseguido pela ditadura e também pelos acadêmicos paulistas que achavam um absurdo um baiano dirigir o Museu que julgavam ser exclusivamente seus.

Nos anos 70, Araújo partiu para a geometria e entrou em contato com a arte africana envolvendo com seu sintetismo. Nasceu assim seu estilo, a tentativa de produzir uma simbiose entre sua geometria e os deuses africanos.

Sente-se na missão de valorizar os negros e contribuir para a formação da cidadania brasileira.

Seu internacionalismo se estende não só à África, mas à Suíça e aos Estados Unidos.

“Teimosia é a grande arma para o novo e para o artista experiente se fazer e se manter em um país como o nosso onde não há um museu que conte e perpetue a História da Arte brasileira”, arremata Emanoel Araújo.

Pérgola encerra o encontro notificando as demais atividades que aconteceriam naquele dia.

Parabéns ao artista homenageado, Emanoel Araújo, pela sua arte e por suas palavras incentivadoras e elucidativas ao público presente.

Parabéns aos organizadores e à cidade de Paraty pelo evento alimentador dos que têm fome de arte e cultura e que ali estavam. Obrigado por, como ouvinte, ter presenciado esta realização, sendo favorecido e enriquecido assim graças a iniciativa pública daquela cidade e particular de Césare Pérgola e Pedro Cler.

Fonte: Barbacena Online

+ sobre o tema

Criolo celebra 10 anos de “Nó na Orelha” e anuncia versão instrumental do disco

O rapper, cantor e compositor paulista Kleber Cavalcante Gomes,...

Lélia Gonzalez: Mulher Negra na História do Brasil

Neste ano de 2009, já contamos 15 anos que...

para lembrar

Paulo Lins: “A cultura é que coloca o negro dentro do Brasil como nação”

O escritor brasileiro Paulo Lins esteve no país pela...

Líderes africanos lutam para que continente deixe de ser “o lixão da Europa”

Para tentar diminuir este problema, 23 nações africanas, membros...

Documentário e tributo aumentam febre por Nina Simone. Conheça produtos da diva

Sacerdotisa do soul, ícone do jazz, ativista da igualdade...

O Estatuto da Igualdade Racial

Por: Edson França   A aprovação do Estatuto da...
spot_imgspot_img

50 anos de Sabotage: Projeto celebra rapper ‘a frente do tempo e fora da curva’

Um dos maiores nomes no hip hop nacional, Sabotage — como era conhecido Mauro Mateus dos Santos — completaria 50 anos no ano passado. Coincidentemente no mesmo ano...

Juçara Marçal e Rei Lacoste lançam o Amapiano “Sem contrato”

A dupla Juçara Marçal (Rio de Janeiro) e Rei Lacoste (Bahia) lançam nesta sexta-feira (26) o single “Sem Contrato” nas principais plataformas digitais e...

Iza faz primeiro show grávida e se emociona: “Eu estou muito feliz”

Iza se apresentou pela primeira vez grávida na noite do sábado (27), em um show realizado no Sesc + Pop, em Brasília, no Distrito Federal. Destacando...
-+=