Carrefour: Reconstituição do caso Januário acontece nesta 2ª feira

Osasco/SP – A delegada Rosângela Máximo da Silva, do 9º DP de Osasco, responsável pelo Inquérito que apura o caso do vigilante Januário Alves de Santana, 40 anos – tomado por suspeito do roubo do seu próprio carro nas dependências da loja do hipermercado Carrefour, da Avenida dos Autonomistas, em Osasco, e espancado por seguranças por cerca de 25 minutos – promove nesta segunda-feira(16/agosto), a reconstituição do crime.

Por causa das agressões Januário teve lesão de natureza grave, com fratura do maxilar esquerdo, perdeu uma prótese, passou por cirurgia no Hospital Universitário da USP, e ainda hoje tem seqüelas psicológicas.

Por meio de um acordo extra-judicial, em novembro passado, o Carrefour adotou todas as providências necessárias para apuração dos fatos, bem como tomou a iniciativa de compensar Januário e seus familiares, em condições por eles consideradas plenamente satisfatórias. Em virtude do acordo, Januário não fala sobre o caso.

O caso ocorrido em agosto do ano passado foi, inicialmente, denunciado por Afropress e teve repercussão nacional e internacional a partir do destaque dado pelos veículos da grande mídia e amplificado pelo telejornalismo das grandes redes de TV do país.

A reconstituição se iniciará por volta da zero hora e deverá se estender por toda a madrugada. Além de Januário, foram intimados os seguranças e funcionários envolvidos na agressão e mais os policiais militares que atenderam a ocorrência.

A delegada escolheu esse horário, aconselhada pelo perito Nicolau Constantino Demirsky, do Instituto de Criminalística de S. Paulo, porque a loja estará fechada. No último dia 27 de julho, ela tentou fazer a reconstituição do crime, porém, por prudência teve de adiá-la temendo que houvesse pânico entre os clientes do hipermercado.

Inquérito

A reconstituição do caso, em que deverão ser relembradas – com a presença dos envolvidos – as versões de Januário, dos seguranças e da própria Polícia – acusada de ter num primeiro momento reforçado a suspeita pelo fato de se tratar de um negro na direção de um EcoSport e omissão de socorro – deverá prosseguir por toda a madrugada de terça-feira e é a última etapa do Inquérito.

O Inquérito apura crime de Lesão Corporal Dolosa, previsto no art. 129 do Código Penal, que pune com detenção de três meses a um ano, quem “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”.

Em sendo a lesão de natureza leve, há a hipótese de transação penal, prevista na Lei dos Juizados Especiais (Lei 9099/95), ou seja: se prevalecer a tese inicialmente cogitada pela delegada, o processo poderá até ser suspenso sem que os responsáveis sejam punidos.

Depois disso a delegada deverá preparar o relatório no qual dirá que crime foi cometido, e quem que participação cada um dos acusados teve.

Cumprir a Lei

O advogado do caso, Dojival Vieira, quer que os acusados sejam denunciados por crime de tortura previsto na Lei 9455/97. A Lei define como tortura “constranger alguém com empregou de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental”, “em razão de discriminação racial ou religiosa”. A pena prevista é de reclusão de 2 a 8 anos.

Segundo o advogado, o que aconteceu com Januário se enquadra totalmente na Lei da Tortura, inclusive no que diz respeito a participação – por omissão – dos policiais que atenderam a ocorrência.

A Lei prevê aumento de pena de 4 a 10 anos de reclusão, se o resultado for lesão de natureza grave, conforme já foi atestado pelo Instituto Médico Legal de Osasco. O Laudo inicial deu lesão de natureza leve, porém, a pedido do advogado, foi complementado.

Também prevê pena para “aquele que se omite” quando tinha o dever de evitar ou apurar a conduta criminosa, como no caso dos policiais envolvidos, punindo com pena de 1 a 4 anos, aumentando-se de 1/6 a 1/3, se o crime é cometido por agente público, além da perda da função ou emprego público e interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

Segundo o advogado, o acordo feito com o hipermercado não tem interferência na responsabilidade penal dos envolvidos. “Sim, o Carrefour adotou todas as providências necessárias para apuração dos fatos, bem como tomou a iniciativa de compensar Januário e seus familiares, em condições por eles consideradas plenamente satisfatórias. A empresa cumpriu a sua parte e fez o seu papel. Agora é a hora da Justiça fazer o seu, responsabilizando aqueles que atacaram de forma covarde, e sem qualquer chance de defesa, e ainda tentaram forçá-lo a confessar o roubo do seu próprio carro, tendo como motivação a discriminação racial, já que a suspeita decorreu do fato de Januário ser um negro com aparência humilde na direção de um EcoSport. Para isso é que é fundamental essa reconstituição. Os olhos do Brasil estão voltados para este caso. Confiamos na Justiça”, afirmou.

Fonte: Afropress

+ sobre o tema

‘Já sofri e continuo sofrendo com racismo’, destaca Abel Neto

Em campanha contra o racismo da Uber em parceria...

Um habeas corpus que tira nossa esperança

Pais, parentes e amigos sentiram o peso da mão...

para lembrar

É a pré-campanha eleitoral

A compulsão eleitoral moveu o prefeito do Rio de...

Executiva da Sony contrata mulher que inspirou ‘Scandal’ para resolver crise dos hackers

Acusada de racismo, a vice-presidente da Sony Pictures, Amy...

MPF/MS: Polícia deve investigar possível prática de racismo em escola de Antônio João

Estudantes guarani-kaiowá teriam sido expulsos de sala de aula...
spot_imgspot_img

Belém e favela do Moinho, faces da gentrificação

O que uma região central de São Paulo, cruzada por linhas de trem, a favela do Moinho, tem a ver com a periferia de Belém, sede...

Alunos de escola particular de SP fazem protesto no Shopping Pátio Higienópolis contra abordagem racista de segurança do local

Alunos do Colégio Equipe, em Higienópolis, fizeram uma manifestação nesta quarta-feira (23), após adolescentes negros - estudantes da escola - denunciarem uma abordagem racista...

Uma elite que sabe muito, mas entende pouco

Em uma manhã qualquer, entre um brunch com avocado e uma conversa sobre alguma viagem à Europa, um membro de uma típica parcela da...
-+=