Assim, os dados nos revelam uma nefasta realidade que assola à todas as minorias religiosas representativas no Brasil, que durante muito anos usou o slogan “Somos todos iguais”
por Ivanir dos Santos no O Dia
A intolerância religiosa não é um fenômeno social e religioso que acontece exclusivamente no Brasil. Um breve panorama histórico sobre a História Mundial nos permite enxergar que a intolerância ainda é um dos maiores desafios para a construção da coexistência pacífica em várias partes do mundo.
Se fossemos fazer a alusão da intolerância a uma representação, talvez a melhor seria a do imenso e destruidor monstro marinho Leviatã, com os seu imensos tentáculos.
Leviatã é descrito em várias mitologias como o monstro destruidor, que ataca ferozmente suas vítimas com os seus imensos oito tentáculos. Na contemporaneidade, o nosso Leviatã, forjado durante séculos e séculos, se chama intolerância e, diferente das mitologias, cada tentáculo tem um nome.
Vejamos quais são: racismo, misoginia, homofobia, transfobia, xenofobia, machismo, desigualdade desrespeito. Juntos, esses tentáculos permeiam nossas relações sociais, políticas e religiosas deixando seus rastros de destruições por onde quer que passem.
E de dentro do nosso Leviatã contemporâneo, entre as intolerâncias, salta a intolerância religiosa, que vem ceifando vidas, deixando vítimas e provocando danos patrimoniais e religiosos.
Ora! Mesmo garantida por lei, a liberdade religiosa não é uma realidade para as religiões em solo brasileiro e para tal averiguação basta deitar nossos olhos sobre dados do relatório sobre os casos de Intolerância Religiosa no Brasil, publicado em 2017 pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, em parceria com o Laboratório de História das Experiências Religiosa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LHER/UFRJ) e, com a editora Klíne.
Obviamente, diante das circunstâncias atuais, tivemos, infelizmente, um crescimento significativo dos casos de intolerância religiosa no Brasil, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
Segundo as informações apresentadas no relatório, entre abril de 2012 a agosto de 2015 pelo Centro de Promoção da Liberdade Religiosa & Direitos Humanos (Ceplir), houve o registro de 1.014 casos de intolerância religiosa, sendo que 71% dos casos são contra adeptos das religiões afro-brasileiras; 8% dos casos são contra evangélicos; 4% são casos contra católicos, 4% são casos envolvendo judeus.
Ainda segundo a Ceplir, de setembro a dezembro de 2015, 32% dos casos são contra muçulmanos, 6% dos casos são contra indígenas, 3% dos casos são contra kardecistas.
Assim, os dados nos revelam uma nefasta realidade que assola à todas as minorias religiosas representativas no Brasil, que durante muito anos usou o slogan “Somos todos iguais” e é lido no exterior como “o país das igualdades”.
Igualdades essas que esbarram nas fronteiras e nos tentáculos de Leviatã! Por isso, precisamos promover a tolerância cotidianamente e não apenas no dia 21 de janeiro.
Ivanir dos Santos é Babalawô, interlocutor da CCIR e conselheiro do CEAP