“Nega gostosaaaaa. Uh!!! Foi mal”, diz postagem apontada como racista.
Justiça foi acionada nesta segunda (21), Dia de Luta contra a Discriminação.
A publicação do professor do Instituto Federal Fluminense (IFF), do dia 13 de março, causou reação imediata de alunos, que repudiaram o teor da mensagem: “Para ninguém achar que não gosto de uma afrodescentende. Nega gostosaaaaa. Uh!!! Foi mal”.
Em nota, o IFF disse que não se responsabiliza por atos e atitudes exercidas pelos funcionários fora da instituição. Mas a unidade afirmou que repudia qualquer comportamento discriminatório, excludente e preconceituoso.
O G1 não conseguiu contato com o professor. Esta reportagem também tentou através de mensagens em sua rede social, mas nenhuma resposta foi encaminhada até a publicação desta matéria.
A publicação foi compartilhada por uma estudante da Universidade Federal Fluminense (UFF) e ativista do movimento negro, que afirmou que o post ofendeu toda comunidade negra e, principalmente, as mulheres negras.
Ativista levou cartaz ao MPF durante a entrega da
denúncia (Foto: Geovana Barcelos/Inter TV)
“A princípio, me senti impotente e violada, senti muita vontade de chorar e chorei. Mas logo veio a ojeriza e a percepção que ele tava ofendendo todas as mulheres negras numa rede mundial e que eu poderia sim fazer algo a respeito porque racismo no Brasil é crime, inclusive denunciei o caso no site da Polícia Federal”, declarou Livia To ao G1.
Cento e oitenta pessoas compartilharam a publicação da estudante, que gerou 70 comentários, entre eles de alunos do IFF que afirmam que o professor sempre fez piadas de cunho racista e homofóbico.
“Ele fez piada no atual primeiro período de um cara que tá no oitavo. Quando ele (aluno) chegou na sala ele (professor) falou: ‘fulano é o lado negro da geografia, ah não, agora não pode mais falar assim, é o lado afrodescendente’”, comentou uma ex-aluna.
Quatorze entidades, entre elas a Comissão da Verdade da Escravidão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ), assinaram um documento, denominado notícia crime, para denunciar o caso. De acordo com o advogado que formalizou a denúncia, Jorge Batista de Assis, o professor atingiu toda comunidade negra e, principalmente, as mulheres negras.
“Ele agrediu, com essa conduta dolosa, consciente. Ele incorreu no crime de racismo no artigo 20, parágrafo 2º da Lei 7.716. Esse professor fez piada de cunho racista e machista ofendendo a comunidade negra e as mulheres. Não só a mulher de Campos, mas todas as mulheres negras”, afirmou.
A publicação chegou até ativistas do movimento negro, que se encontraram em três reuniões para saber qual seria a melhor maneira de agir diante desse caso.
“Essa denúncia é uma reação ao racismo. E quando os movimentos começam a reagir, essas pessoas pensam duas vezes antes de praticar racismo. A gente não vai mais se calar”, enfatizou Gilberto Coutinho, ativista membro de diversos movimentos negros em Campos.
O advogado solicitou que o MPF faça uma denúncia à Justiça Federal.
“Além da ação penal, estamos pedindo uma ação cívil para que haja idenização, em dinheiro, para que seja encaminhado ao Fundo Nacional de Promoção a Igualdade Racial”, ressaltou Jorge Assis, lembrando que a democracia deve ser exercída sem ofensas à dignidade.
“Como cidadão, a gente tem a liberdade de fazer nossas piadas, nossos posts, desde que não fira a dignidade de ninguém, principalmente de uma comunidade inteira”, reinterou.
O MPF informou que, caso não haja outra denúncia contra o professor, será instaurado um procedimento e a denúncia será encaminhada para um procurador, que decidirá o que será feito.
As outras entidades que assinaram o documento foram: Conselho de Entidades Negras do Interior (CENIERJ); Instituto de Pesquisas das CulturasNegras (IPCN/RJ); Liga da Capoeira Municipal de Campos dos Goytacazes; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Estadual do Norte Flumiense (Uenf); Movimento Campista de Pesquisa da Cultura Nera; Instituto de Desenvolvimento Afro Norte e Noroeste Fluminense; Associação fIlhos do Amanhã; ABASSA – Afro Axé Oxossi Inle; Centro Cristã Umbandista Cabana de Oxossi; Núcleo de Esudos de Exclusão e da Violência da Uenf; Nação Basquete de Rua (NBR); Ile Axé Opô Ogodô.