O ano de 1988 foi um divisor de águas para o Brasil – e suas mulheres negras. Firmou o retorno da democracia com a promulgação da Constituição vigente ainda hoje e viu acontecer o 1º Encontro Nacional de Mulheres Negras (ENMN), que ajudou a estabelecer no Brasil o feminismo negro, articulado pela necessidade de integrar às causas feministas questões sociais que passavam longe de seu recorte branco.
O dia 13 de maio de 1988 marcou o Centenário da Abolição da Escravidão, com protestos que mostravam como esse fato nunca se concretizou no país. Principalmente entre as mulheres negras, trabalhadoras em subempregos de pouca remuneração e nenhuma seguridade social, sem que suas denúncias sobre a opressão e omissão do Estado Brasileiro fossem acatadas. No contexto de mudança de uma situação que não seria mais aceita, em 30 de maio de 1988 surgiu Geledés – Instituto da Mulher Negra.
A organização destacou os elementos simbólicos da cultura da diáspora negra e afro-brasileira como poderosos suportes conceituais do levante feminino contra o poder masculino, e pôs em debate as pautas imprescindíveis as mulheres negras, ampliando o viés social e político das reivindicações do feminismo brasileiro.
Da sede inicial num quarto emprestado por uma de suas fundadoras na Vila Sônia até o endereço atual, no coração da cidade de São Paulo, Geledés virou referência na luta pelos direitos e pela igualdade social de mulheres e negros, que sofrem desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades por causa do racismo e do sexismo que estruturam o nosso país.
Somando aos seus programas no Brasil, a instituição hoje atua como consulente junto a órgãos internacionais, como a OEA e a ONU, para seguir ampliando a voz dos movimentos negros pela criminalização efetiva do racismo em suas várias manifestações na sociedade brasileira, defendendo a ação afirmativa nos campos das políticas públicas para eliminar as desigualdades raciais, promover e valorizar socialmente a população negra e, ainda, eliminar preconceitos regionais, de credo, de opinião e de classe social.
Geledés também age contra toda discriminação de gênero, lutando pela ampliação de direitos e equidade de raça, gênero e a agenda LGBTQIA+, pela descriminalização do aborto, contra os estereótipos e estigmas nos meios de comunicação, o racismo religião e regional, entre outros.
Para conquistar seus objetivos de forma continuada, a organização divide seus projetos em diferentes frentes (alguns, em mais de uma):
- Advocacy e Incidência Política
- Políticas de Promoção da Igualdade de Gênero e Raça
- Educação e Pesquisa
- Difusão e Gestão da Memória Institucional
- Comunicação Institucional
Todas as áreas dialogam com as questões dos direitos humanos em razão das diversas ameaças aos direitos e a dignidade humana de mulheres e negros, e para isso realiza estratégias de enfrentamento usando instrumentos jurídicos para atender às vítimas de racismo, capacitando lideranças comunitárias a exercer a cidadania, sistematizando e produzindo conhecimento em estudos e mapeamentos que lançam luz sobre abusos e descasos referentes a esse campo no país.
Em Geledés, a educação como um direito humano desponta na forma de projetos de capacitação e formação, na proteção e expansão dos direitos educativos para estudantes negras e negros e na busca pela implementação efetiva da lei 10.639/2003, que determina o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares.
Com o advocacy e o monitoramento de políticas públicas tanto em solo nacional quanto junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da ONU e OEA, onde ocupa status consultivo, a organização mira na legislação e nas declarações voltadas às pessoas negras e às mulheres, para garantir e estabelecer que novos direitos sejam conquistados e outros sejam efetivamente respeitados.
Geledés potencializa conquistas e causas pela comunicação, gerando visibilidade para as violações dos direitos da população negra, mas também sendo um canal de empoderamento e fortalecimento de suas vozes, com a capacitação das mulheres negras e na atuação em rede pela comunidade Comunicadoras Negras, de ativistas e instituições sociais.
A transversalidade da área de comunicação em todos os setores da organização se espelha na assistência interna e visibilização de suas ações de forma acessível ao público leigo em suas redes sociais e no Portal Geledés (também um canal de notícias, artigos e reflexões sobre o movimento negro e feminista hoje e ontem). É a tradução para a linguagem coloquial e próxima de todos os jargões de iniciativas como a atuação consulente junto à ONU, por exemplo.
Assim, Geledés segue sua trajetória no século 21 conectada às evoluções sociais e comportamentais, fomentando pontes para transmitir o conhecimento de suas decanas a jovens e interessados pelo pensamento negro contemporâneo. A instituição criou na sua sede o Centro de Documentação Institucional (CDMI), com publicações realizadas ao longo de sua história, além de títulos de pensadoras e pensadores negros essenciais para se entender a cultura e a história afrodiaspórica.
Geledés – Instituto da Mulher Negra é lugar de luta e reivindicação, de capacitação e formação, de integração e visibilidade e de celebração da população negra e feminina de 1988 até hoje.
